Colecionando pássaros exóticos

O município de Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, abriga um verdadeiro paraíso em aves ornamentais. Numa propriedade de trinta hectares de terra, o proprietário da empresa Companhia das Aves, Luis Carlos Meggetto, mantém uma das maiores coleções paranaenses de pássaros exóticos.

No total, são cerca de seiscentas aves, sendo setenta variedades de galinhas, 35 de marrecos, cinco de pombos, doze de gansos, vinte de faisões, três de cisnes, cinco de pavões e algumas emas. As espécies encantam quem as observa, chamando a atenção principalmente pelo colorido das penas e pela forma de cantar.

Além de uma atividade comercial, elas são tidas como uma verdadeira atividade terapêutica na vida de Luis Carlos, que tem 62 anos de idade. Apaixonado por aves, ele começou a criá-las ainda na infância, como hobby. Mais tarde, em função do estresse e de uma depressão que o fez abandonar a profissão de comerciante de materiais elétricos, ele resolveu iniciar uma coleção.

?Larguei o comércio nas mãos de meus filhos e decidi me dedicar apenas à criação de aves. Tenho a propriedade em Araucária há quinze anos e trabalho nela todos os dias, embora more em Curitiba. Os pássaros são o meu remédio antidepressivo e, além deles, lido com coelhos, pôneis, minivacas, javalis, cabritos, carneiros e peixes. Adoro animais?, conta.

Inicialmente, Luis comprava a maioria de suas aves. Hoje, a quantidade de animais é tão grande que eles se reproduzem dentro da própria propriedade, se multiplicando cada vez mais. Algumas vezes, o criador adquire alguns animais de fora, para evitar cruzamentos consangüíneos entre as espécies, e também envia indivíduos para outras propriedades de dentro e de fora do Estado. São comercializados apenas os excedentes e alguns animais considerados mais raros e bonitos chegam a participar de feiras e exposições.

Para manter a criação, o ex-comerciante conta com a ajuda de três funcionários e todos os dias, no início da manhã, vai até a Ceasa (Central de Abastecimento) da capital paranaense para recolher frutas e verduras que são descartadas pelos comerciantes por serem consideradas inadequadas para consumo humano. Os produtos geralmente enchem um caminhão mantido por Luis e servem de alimento para grande parte dos animais. De rações, as aves consomem aproximadamente quatro toneladas por mês.

Os pássaros são mantidos em recintos especiais, com algumas características específicas de acordo com a espécie. No inverno, alguns cuidados a mais são tomados para evitar que os animais fiquem doentes. Com o objetivo de protegê-los do vento e do frio, lonas costumam ser colocadas como cobertura nas gaiolas, funcionando como uma barreira de proteção. A enfermidade que mais preocupa o criador é a coccidiose (doença intestinal que representa uma ameaça constante às criações de aves e comumente leva os animais à morte).

?Para evitar a coccidiose, realizamos desvermifugação a cada sessenta ou noventa dias e acrescentamos medicamentos na ração. Freqüentemente realizo pesquisas para saber que produtos, quando adicionados à alimentação das aves, podem garantir-lhes a saúde?, comenta. Apesar da atividade parecer trabalhosa, o criador garante que a manutenção das aves é mínima, normalmente gerando poucos incômodos. Em breve, ele também pretende começar a criar papagaios (como roséolas, neophemas e ringnecks) e periquitos.

Longas caudas dos pavões impressionam

Também chamam a atenção na propriedade os pavões, donos de longas caudas que propiciam um espetáculo a parte quando abertas em períodos de acasalamento. Luis Carlos mantém alguns exemplares de pavões brancos, mas principalmente de pavões verdes ou de Java (Pavo muticus muticus) e de pavões azuis (Pavo cristatus).

Os verdes são originários do sudeste da Ásia (Malásia e Java), considerados mais raros e possuem coloração bastante brilhante. As penas têm um tom de verde metálico com zonas azuladas, sendo que a cauda tem alguns detalhes em preto. Na cabeça, os animais apresentam um topete inclinado para a frente.

?Tenho um casal de pavões verdes, mas até agora eles não se reproduziram. Eles custam cerca de R$ 1,5 mil. O macho, que se diferencia da fêmea por ter a última pena da asa em cor marrom, foi trazido da propriedade do ator global Victor Fasano, que também gosta dos animais?, diz.

O pavão azul, que também é originário da Ásia, é o mais comumente encontrado no Brasil. Só na propriedade de Araucária são mantidos cerca de trinta animais, que geralmente são considerados bastante dóceis. Um casal de pavão azul, considerado tão bonito quanto um de pavão verde, custa cerca de R$ 500.

Lady, uma espécie bem conhecida

Preto, branco, verde, vermelho, amarelo e azul. Estas são as cores do pavão Lady (Chrysolophus anherstiae), uma das aves mais comuns na propriedade de Araucária e também um dos mais conhecidos no Brasil.

De colorido intenso, o pássaro é originário das montanhas do sudoeste da China. Atualmente, Luis Carlos mantém três casais, que já se reproduziram várias vezes. Ele cria representantes da espécie há cerca de 36 anos.

?Os machos que tenho atualmente foram trazidos de San Diego, na Califórnia, com o objetivo de evitar cruzamentos consangüíneos. Uma característica interessante dos pavões Lady é que, no momento do acasalamento, eles armam as penas que saem da cabeça e vão até o pescoço?, afirma o criador.

Como a maioria das aves, os faisões se reproduzem na primavera e início do verão. Os Lady colocam entre 25 e trinta ovos. Um casal custa entre R$ 250 e R$ 300.

Dois tipos de gansos raros se destacam na coleção

Foto: Lucimar do Carmo/O Estado

A propriedade onde as aves da coleção de Luis Carlos estão abrigadas tem trinta hectares.

Entre as aves criadas por Luis Carlos, têm destaque dois tipos de gansos considerados raros: o ganso cereopsis (Cereopsis novaehollandiae) e o ganso havaiano (Branta sandvicencis).

O primeiro é originário da Austrália e pode ser reconhecido facilmente pela coloração verde-limão que apresenta no bico, sendo que o restante do corpo é acinzentado. Os machos costumam ser um pouco maiores que as fêmeas.

Na propriedade de Araucária, os animais são criados há cerca de oito anos. ?O ganso cereopsis é bastante comum na Austrália, mas não muito conhecido no Brasil. Uma característica interessante da espécie é que a fêmea emite um som muito parecido com o de um porco?, informa Luis. ?Atualmente, mantenho em minha propriedade três casais?.

Já o ganso havaiano, como o próprio nome diz, é originário do Havaí, onde costuma chocar seus ovos em larvas petrificadas de vulcões. É caracterizado pela cabeça preta, pelo pescoço amarelado e pelo corpo com penas cinzas e brancas. No ano passado, a espécie se reproduziu pela primeira vez na criação mantida pelo ex-comerciante.

?Em anos anteriores, os gansos havaianos colocavam ovos e os chocavam, mas os filhotes não nasciam. No ano passado, nasceu uma fêmea e eu fiquei muito contente. Hoje, mantenho dois casais e um filhote. Os casais estão com seis ovos e eu tenho esperança de que um novo animal nasça novamente este ano?.

Ao contrário da maioria das aves, que costumam se reproduzir na primavera, os gansos cereopsis e havaiano se reproduzem no inverno. O casal de ambos custa, em média, entre R$ 1,5 mil e R$ 1,8 mil.

Luis Carlos também cria alguns exemplares de gansos do Canadá (Brante canadensis), da Índia (Anser indicus) e do Egito (Alopochen aegyptiacus). Este último possui uma marca no peito, como se fosse uma punhalada, e é considerado o mais comum, se reproduzindo durante todo o ano. Em função da fácil reprodução, os casais possuem menor valor econômico. Custam, em média, R$ 250,00, embora também sejam considerados de grande beleza.

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