Cientistas brasileiros descobriram uma variedade etíope de café naturalmente descafeinado. A informação foi divulgada na revista “Nature”, nesta quarta-feira, e deve causar impacto nos meios científicos e na própria indústria do café. Pesquisadores do mundo inteiro buscam variedades com menos ou nenhuma cafeína, para atender milhões de apreciadores da bebida que não podem ingerir a substância estimulante presente no café.
A vantagem da variedade etíope é ser do tipo arábica, com grande potencial para manter o aroma e o sabor que cativam os consumidores. “Encontramos o primeiro Coffea arabica descafeinado”, anunciou Paulo Mazzafera, da equipe formada por pesquisadores do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
O arábica etíope tem 20 vezes menos cafeína do que o produto padrão hoje no mercado. O grupo de cientistas fará testes para medir a produtividade desta varieadade – que não é cultivada comercialmente em seu ambiente natural – e estuda o cruzamento com outras mais produtivas.
Caso se mostre suficientemente produtiva, o novo café deve chegar ao mercado em cinco anos, segundo os cientistas. Se for necessário desenvolver uma nova variedade, o prazo sobe para cerca de 15 anos. “Acreditamos que o cruzamento tradicional de variedades será suficiente para transferir as características do descafeinado para as outras”, disse Mazzafera.
Sabor e aroma – A corrida por um descafeinado de qualidade é acirrada. Em todo o mundo, cientistas têm tentado – sem sucesso – achar um jeito de reduzir a cafeína sem tirar do café grande parte do sabor e do aroma.
Outras pesquisas caminham na direção do cruzamento das variedades arábica com espécies selvagens sem cafeína, mas o resultado tem sido decepcionante quanto à qualidade da bebida. No Japão, pesquisadores anunciaram no ano passado ter desenvolvido um café transgênico com menos cafeína, não se trata de um arábica, e sim Coffea canephora, considerado uma bebida sem gosto, segundo Mazzafera.
O arábica tem metade da cafeína contida no tipo robusta, o que o torna mais indicado para a produção do descafeinado. O arábica é o mais cultivado e consumido no mundo, e a procura pelo descafeinado tem crescido, chegando a 10% das vendas.
A indústria do café aposta que conseguirá elevar o consumo mundial quando conseguir, por um lado, atrair de volta antigos apreciadores que tiveram de parar de ingerir cafeína e não gostaram dos atuais descafeinados, e por outro, consumidores que temem prejuízos à saúde.
Desde 1965 – Mazzafera, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, Maria Bernadete Silvarolla e Luís Carlos Fazuoli, do IAC, não foram à Etiópia para descobrir a variedade. Ela estava no cafezal do IAC desde 1965, misturada a duas mil plantas cujas mudas vieram daquele país, trazidas a pedido do geneticista Alcides Carvalho, que criou a maioria das variedades comerciais de arábica hoje cultivadas no Brasil.
Foram descobertas três plantas da mesma família, batizadas AC1, AC2 e AC3, em homenagem a Carvalho, falecido em 1992. As AC foram localizadas pelos pesquisadores brasileiros em meados do ano passado. De lá para cá, os pesquisadores fizeram vários estudos até concluir sobre o baixo teor de cafeína nos frutos.
“Se o café que tomamos traz de 1% a 1,2% de cafeína, as análises em laboratório desta espécie apontaram somente 0,06%, praticamente zero. Trata-se de uma descoberta que vai colocar o café brasileiro novamente em evidência”, disse Mazzafera.
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