Um cirurgião plástico britânico anunciou que em alguns meses será possível fazer transplantes faciais entre um doador falecido e um paciente com o rosto desfigurado por doença ou acidente. “A pergunta não é se estamos em condições de fazê-lo, mas se deveríamos fazê-lo”, declarou à BBC o médico Peter Butler, do Royal Free Hospital, abrindo uma polêmica ética e moral sobre esse tipo de transplante.
O procedimento cirúrgico ajudará pessoas muito desfiguradas pelo câncer ou queimaduras, dando-lhe virtualmente um “novo rosto”. “É possível realizar atualmente cirurgias reconstituintes, mas freqüentemente a aparência é igual à de uma máscara, pois o rosto refeito com pedaços de pele extraídas de outras partes do corpo não tem mobilidade”, afirmou Butler.
Segundo o cirurgião, no transplante facial não haveria esse problema. Lábios, bochechas, orelhas, nariz, pele e até ossos tirados de uma pessoa recém-falecida poderiam ser implantados através de microcirurgia.
“Para que a operação tenha sucesso, é necessário conectar os nervos que controlam a expressão e os movimentos”, declarou o médico, ressaltando que a técnica cirúrgica não é tão complexa quanto possa parecer. “Os aspectos éticos e morais são o verdadeiro problema”, observou.
Butler destacou que, quando o transplante inclui ossos faciais do doador, o paciente fica com o mesmo rosto da pessoa falecida, algo semelhante ao que acontece no filme “Face off”, onde um terrorista (Nicholas Cage) e um agente do FBI (John Travolta) trocam de rostos.
A pesquisa deve ser concluída dentro de seis ou nove meses, e o médico pedirá ao hospital e ao Ministério da Saúde autorização para fazer o transplante facial. “Essa cirurgia não se destina a corrigir problemas estéticos, mas apenas a pessoas com o rosto desfigurado”, ressaltou.
Este é o caso de Christine Piff, de 25 anos, cujo rosto recebeu uma prótese devido a um câncer. “Se a cirurgia melhorar a qualidade de vida de pessoas que perderam a mandíbula e não podem sequer comer, é uma coisa maravilhosa. Mas também fico preocupada, pois não posso imaginar o que significaria viver com a cara de outro”, comentou Piff.