Chuvas trazem o perigo da leptospirose

Os animais, apesar de amigos e companheiros, também podem ser transmissores de doenças aos seres humanos. Por isso, todo o cuidado é pouco para que os bichos se mantenham saudáveis e, desta forma, não representem riscos à saúde das pessoas. Nesta época do ano – em que se aproximam as chuvas de verão, que resultam em alagamentos de áreas urbanas – uma das maiores preocupações dos profissionais de saúde é em relação à leptospirose.

Considerada uma das principais zoonoses (doenças transmitidas por animais) do mundo, a enfermidade acomete animais silvestres e domésticos, de pequeno e grande portes. Causada por uma bactéria, a Leptospira interrogans, a leptospirose é uma doença infecciosa transmitida às pessoas e aos bichos pelo contato com urina e fezes de ratos de esgoto. Porém, embora mais raro, a doença também pode ser passada aos humanos pelo contato com dejetos de outros animais contaminados.

No Brasil, a principal forma de adquirir a doença é através do contato com a água de enchentes e inundações. Quando acontece uma enxurrada, a água da chuva se mistura com a água presente em esgotos e bueiros, geralmente contaminada pela urina de ratos. A bactéria, que realiza movimentos de espiral, penetra no corpo dos animais e dos seres humanos através da pele, principalmente se houver arranhão ou ferimento, e das mucosas. Posteriormente, cai na circulação sangüínea e se multiplica.

?Os sintomas iniciais da doença em pessoas são muito parecidos com os da gripe, como febre, dor de cabeça e dores pelo corpo. Porém, quem tem leptospirose também apresenta icterícia, ficando com uma cor alaranjada na pele, e dores musculares, principalmente na região da panturrilha (batata-da-perna). Em casos mais graves, quando há manifestação pulmonar da doença, o paciente pode sentir falta de ar e ter tosse com saída de sangue?, comentam a médica infectologista e a médica responsável pelo serviço de epidemiologia hospitalar do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, respectivamente Cléia Elisa Lopes Ribeiro e Suzana Dalri Moreira.

Nos animais – sejam eles cães, porcos, cavalos, bois, cabras, entre outros – os sintomas da doença são parecidos aos verificados em humanos. A informação é do médico veterinário Alexander Biondo, que é integrante da Comissão do Conselho de Zoonoses e Bem-Estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Paraná (CRMV-PR). Quando é verificada a contaminação de um animal doméstico, devem ser tomados alguns cuidados para que a doença não seja passada às pessoas. A forma de contaminação também é através do contato da pele ou das mucosas com a urina.

Entre os cuidados estão: isolar o animal contaminado, não deixando que ele tenha contato com outros bichos; higienizar diariamente o local onde ele fica, tomando o cuidado de se proteger com luvas e botas; e procurar assistência veterinária. Geralmente o tratamento é feito com utilização de antibióticos. ?Não existe vacina contra a doença para humanos, mas os animais podem e devem ser vacinados anualmente. Isto faz com que eles corram menos risco de adquirir a leptospirose e conseqüentemente transmiti-la ao homem?, diz Biondo.

Tanto animais quanto pessoas, se não tratados corretamente, podem morrer de leptospirose, cujo diagnóstico é feito através de exame de sangue. A forma de manifestação da doença – de leve a grave – depende, de acordo com Cléia e Suzana, da carga de leptospira com a qual se teve contato. No Paraná, entre pessoas, costuma ser verificada mortalidade em 10% dos casos registrados. Só no HC, no ano passado, foram internados 61 pacientes com leptospirose. Destes, treze foram a óbito. A leptospirose não é transmitida de uma pessoa a outra, nem através da urina de humanos (a urina das pessoas é mais ácida, o que inviabiliza a sobrevivência da leptospira).

Em qualquer suspeita da doença em seres humanos, deve-se procurar um médico, o Distrito Sanitário ou a Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde. E no caso dos cães, para melhor orientar-se, procure um consultório ou clínica veterinária e a própria Coordenadoria de Controle e Zoonoses e Vetores da Secretaria de Saúde.

Hantavirose afeta moradores da área rural

Foto: João de Noronha/O Estado
Alexander Biondo: animais devem ser vacinados anualmente.

Outra zoonose transmitida por ratos, que muitas vezes é confundida com a leptospirose, é a hantavirose. A doença, considerada grave e que também pode ser fatal, é causada por um vírus presente na urina, nas fezes e na saliva de ratos silvestres contaminados. Os animais geralmente são encontrados em áreas rurais.

A transmissão ocorre pela inalação de poeiras contaminadas com o vírus, o que ocorre principalmente em locais fechados. Porém, também se pode pegar a doença através da mordida do rato. Este costuma ficar escondido ao redor de casas, em locais onde são armazenados grãos, em plantações, áreas próximas a reflorestamentos, áreas desmatadas, acampamentos, entre outros locais.

Os sintomas também são parecidos com o da gripe e conseqüentemente com o da leptospirose: febre, dor de cabeça, dores pelo corpo, tosse seca, falta de ar, náuseas, vômitos e diarréia. As maiores vítimas costumam ser agricultores, pescadores, pessoas que trabalham em áreas de reflorestamento, que vivem ou trabalham no campo ou que varrem ou dormem em locais fechados (como galpões, paióis, armazéns, casas rurais, casas de campo, entre outros).

Para evitar a doença é aconselhável não deixar a casa fechada por muito tempo; não plantar nada a menos de trinta metros de distância da casa; manter o mato em volta da residência sempre cortado; não deixar madeira, lixo ou folhas acumuladas; não comer frutos caídos ou que estejam próximos do chão; tapar todas as frestas e buracos por onde o rato possa passar; não deixar restos de ração ou comida ao alcance dos roedores; evitar lixo espalhado; guardar grãos a uma altura mínima de quarenta centímetros do chão; não varrer imediatamente locais que permaneceram muito tempo fechados, antes abrindo portas e janelas; e nunca tocar em ratos.

No Paraná, especialmente entre a população rural da região centro-sul (União da Vitória, Guarapuava, Irati e Pato Branco), foram registrados, em 2003, 14 casos da doença com seis mortes. Em 2004, 10 casos com cinco mortes. No ano passado, ocorreram 12 casos, com seis mortes.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo