A China demonstrou hoje “forte descontentamento” com o pedido da secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, para que Pequim publique os nomes dos mortos e desaparecidos na repressão na Praça da Paz Celestial, em junho de 1989. A reação chinesa ocorre exatamente no dia em que se completam 20 anos do massacre. “Os comentários dos Estados Unidos não levam em conta os fatos. Fazem acusações sem base contra o governo chinês”, afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Qin Gang. “Nós expressamos forte insatisfação com isso. Pedimos aos Estados Unidos que deixem de lado seus preconceitos políticos e corrijam esses erros, para evitar prejudicar as relações bilaterais.”
Hillary pediu ontem que o governo chinês publique os nomes dos mortos e desaparecidos na repressão ocorrida há 20 anos. Também pediu a libertação daqueles que ainda estão presos por participação nos protestos pacíficos pró-democracia. Pelo menos centenas de pessoas morreram quando o Exército da China abriu fogo contra manifestantes desarmados, na noite de 3 para 4 de junho de 1989. Pequim nunca realizou uma prestação de contas completa, detalhando as mortes.
“Uma China que fez enormes progressos economicamente e emerge para assumir seu legítimo lugar na liderança global deve examinar abertamente os eventos negros do passado e fornecer um balanço público daqueles mortos, detidos ou desaparecidos, tanto para aprender quanto para cicatrizar a questão”, afirmou a secretária de Estado norte-americana, em comunicado.
Qin qualificou esses comentários como uma “inaceitável interferência em assuntos internos chineses”. Hillary também pediu a Pequim que pare de perseguir as Mães da Praça da Paz Celestial, um grupo de parentes das vítimas que faz campanha para saber mais sobre o que ocorreu e que luta por justiça contra os responsáveis pela repressão. Na terça-feira, o Congresso dos EUA fez um apelo similar, em uma resolução aprovada quase unanimemente.
Segurança
A China reforçou a segurança para evitar qualquer evento lembrando o massacre na Praça da Paz Celestial. Em várias cidades pelo mundo, milhares de pessoas realizaram manifestações, pedindo transparência e criticando a repressão do regime comunista chinês. A segurança está extremamente reforçada na Praça da Paz Celestial. Policiais revistavam mochilas e até os bolsos de chineses e turistas estrangeiros em postos de controle perto da grande praça.
A presença de jornalistas estrangeiros foi proibida – um cinegrafista da France Presse recebeu uma ordem para apagar imagens registradas. O país também tentou evitar qualquer discussão pública ou lembrança dos eventos de junho de 1989. Foram bloqueados o acesso a redes sociais na internet, como o site Twitter e algumas notícias de meios internacionais, além de se evitar que dissidentes importantes falassem sobre o caso. As informações são da Dow Jones.