O número de falências de empresas chinesas tem crescido nos últimos dois anos, em um sinal de que o Estado está começando a tomar passos dolorosos para reduzir o inchado setor industrial do país enquanto tenta controlar a dívida.
A busca da China por formas de gerir seu crescimento menos acelerado é um tema que paira sobre o Congresso Nacional do Povo que começa neste domingo. O desafio deve guiar as discussões entre delegados sobre como lidar com empresas com alto endividamento e que respondem pela maior parte da produção industrial e dos empregos em suas regiões.
A prática comum é manter empresas em falência vivas com o apoio do governo para preservar a produção e evitar os riscos políticos que poderiam surgir com demissões em grande escala. Injeções de caixa salvaram empregos no curto prazo e atrasaram discussões.
Chefe do órgão regulador bancário, Guo Shuqing sinalizou na última quinta-feira que a gestão de dívida será um tema forte do Congresso.
“O governo deve segurar o touro pelo nariz na eliminação de empresas zumbis”, disse, usando uma expressão chinesa que se refere a manter empresas vivas apenas por meio de ajuda estatal.
Falências ainda são uma raridade na China. O código de falências chinês é similar ao de economias desenvolvidas, como os Estados Unidos, mas a negociação de dívidas é mais frequentemente resolvida em acordos particulares.
Segundo dados oficiais, entre 2012 e 2014 ocorreram 2 mil casos de falência na China por ano, apenas 0,25% do total de companhias que deixou o mercado a cada ano. O número cresceu para 3,6 mil em 2015 e 5,6 mil no ano passado, em meio a uma forte alta da dívida corporativa.
Autoridades tradicionalmente viam a falência como um reflexo de fracasso. “Governos locais usam de vários artifícios para evitar falências, de forma que isso não afete a percepção sobre o desempenho dos governantes”, diz Chen Xiahong, da Universidade Chinesa de Ciência Política e Direito.
O aumento nas falências não quer dizer que Pequim acabou com as ajudas, em especial as concedidas a empresas estatais de grande porte. Nos seis meses encerrados em fevereiro, o governo destinou mais de US$ 62,5 bilhões para gigantes industriais estatais por meio de complexas trocas por ações.
As falências mais recentes envolveram empresas pequenas e autoridades seguem preocupadas com o risco de manifestações em larga escala. Pequim estima que as demissões vão afetar 500 mil trabalhadores da indústria do aço e do carvão este ano e cerca de 1,8 milhão até 2020. O Ministério do Trabalho disse nesta terça-feira que espera que os cortes de pessoal sejam conduzidos de forma “contínua e ordenada”. Fonte: Dow Jones Newswires.