A China está investigando se centenas de crianças, a maioria com idades entre nove e 16 anos, foram vendidas a fábricas na província de Guangdong, ao Sul do país, nos últimos cinco anos para serem submetidas à escravidão.
A investigação foi aberta depois da publicação, na segunda-feira (28), de uma reportagem investigativa pelo Southern Metropolis, jornal estatal de Guangdong. Segundo o diário, as crianças eram "vendidas como repolhos" por seus pais a gangues que então as vendiam a agências de emprego ou diretamente a fábricas, localizadas a centenas de quilômetros de suas residências.
O Southern Metropolis informou que as crianças de Liangshan recebiam apenas 2,5 yuans (US$ 0,30) por hora e eram forçadas a muitas horas de trabalho. Uma menina, Luo Siqi, de Liangshan, disse que recebia 4 yuans (US$ 0,50) por hora. Ao ser informada pela polícia que o dinheiro que ela pensou que estava mandando para casa pode não ter chegado a sua família, ela chorou, disse o jornal. "Meu pai e minha mãe me venderam; eu não quero voltar" disse a menina.
A maior parte das crianças era de Liangshan, área agrícola pobre na província de Sichuan, no Sudoeste da China, e trabalhava em fábricas na cidade de Dongguan, em Guangdong, assim como em Shenzhen e Huizhou.
O jornal oficial China Daily citou o porta-voz de Dongguan, Wang Yongquan, segundo o qual "as autoridades trabalhistas e sindicatos vão investigar todas as companhias da cidade, o mercado de trabalho e as agências". Ele disse que a polícia já havia resgatado mais de 100 jovens de casas alugadas e detido diversas pessoas. A agência oficial Xinhua disse que o governo de Dongguan investigou mais de 3 mil companhias envolvendo 450 mil indivíduos na cidade, mas que apenas umas poucas empresas e lojas pequenas empregavam trabalhadores temporários.
"O governo tem uma atitude muito clara em relação ao uso ilegal de trabalho infantil e vamos coibi-lo resolutamente. Sempre que encontrarmos um trabalhador infantil, a empresa será investigada", disse Li Xiaomei, vice-prefeito de Donguan City. O governo também multará a empresa em até 50 mil yuans (US$ 7.200) se for pega, acrescentou.
Histórico
A investigação foi aberta menos de um ano depois de a imprensa chinesa ter revelado que crianças a partir de oito anos eram seqüestradas ou recrutadas em estações de ônibus e trens com falsas promessas de trabalho bem remunerado e vendidas a fábricas de tijolos na província central de Shanxi por cerca de US$ 65.
As vítimas eram forçadas a trabalhar quase ininterruptamente, espancadas e privadas de pagamento, alimentos e cuidados médicos básicos.