O governo da China baixou a meta de crescimento do PIB para 7,0% ao ano entre 2011 e 2015, ante 7,5% nos cinco anos anteriores. O anúncio foi feito neste sábado pelo primeiro-ministro, Wen Jiabao, que abriu a reunião anual do Congresso Nacional do Povo, o órgão legislativo chinês, quando tradicionalmente se anuncia o Plano Quinquenal, projeto de desenvolvimento econômico e social para a próxima meia década.
Embora o governo chinês geralmente estabeleça metas conservadoras para o PIB, analistas consideraram que o movimento não deixa de ser um importante sinal de que suas prioridades estão mudando, a fim de reduzir a dependência do país das exportações e das indústrias de capital intensivo, em favor da criação de condições para aumentar a demanda doméstica. O plano quinquenal anterior, anunciado em 2006, tinha uma meta de crescimento de 7,5%, mas a economia cresceu, em média, 11,1% entre 2006 e 2010. O PIB aumentou 10,3% em 2010 e é consenso entre economistas que a taxa deste ano deverá ficar em pelo menos 9%.
O premiê prometeu que o combate à inflação será a prioridade do governo neste ano, mas disse que isso será feito sem sacrificar o crescimento econômico e a criação de empregos, cruciais para manter a estabilidade social no país. Em um discurso de mais de duas horas, também reiterou a promessa de avançar com reformas estruturais e de fazer a segunda maior economia do mundo ser impulsionada mais pelo consumo interno que pelas exportações e pelo investimento estatal.
A meta de inflação ao consumidor será de 4% em 2011. Em 2010, o índice de preços ao consumidor atingiu 3,3%, maior que a meta de 3%. A estabilidade de preços estará no topo da agenda da política econômica neste ano, um sinal de que Pequim continua alerta para o crescente ressentimento público com os valores crescentes dos alimentos e dos imóveis. “Recentemente, os preços subiram muito rapidamente e a expectativa de inflação aumentou. Esse problema diz respeito ao bem estar do povo, afeta a estabilidade social. Devemos, portanto, tornar nossa maior prioridade o controle dos níveis de preço”, disse.
Com base nos níveis de preços do ano passado, o PIB da China deve ultrapassar 55 trilhões de yuans (US$ 8,8 trilhões) em 2015, disse Wen. Ele acrescentou que o país pretende elevar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento para 2,2% do PIB até 2015. Também como parte do novo Plano Quinquenal, a China vai avançar gradualmente com a liberalização da taxa de juro e ampliar ainda mais o uso do yuan no comércio e nos investimentos com o exterior, disse Wen. Pequim também vai se esforçar para atingir gradualmente a convertibilidade da conta de capital, acrescentou.
Ainda falando a respeito da inflação, Wen disse que a China deve aproveitar ampla oferta do país de bens manufaturados e as reservas de grãos, bem como as suas enormes reservas em divisas, para conter a inflação importada e estrutural. O governo fixou meta de crescimento de 16% para o M2, a medida mais ampla da oferta de moeda na China, em 2011.
O governo vai “gerir de forma eficaz a liquidez do mercado e controlar as condições monetárias” para impedir uma elevação muito rápida dos preços das commodities. O governo também quer ampliar a oferta de produtos agrícolas e vai reforçar a fiscalização de preços por vias administrativas, afirmou o premiê. Wen reiterou também a promessa de melhorar a taxa de câmbio do yuan e de tomar medidas para interromper a disparada dos preços dos imóveis.
“As palavras de Wen sugerem que o governo tem uma visão mais equilibrada sobre o combate à inflação e a manutenção do forte crescimento econômico. Então, a possibilidade de um aperto monetário mais forte é baixa”, avaliou Wang Qing, economista do Morgan Stanley. Na tentativa de conter a elevação dos preços, a China aumentou a taxa básica de juros por três vezes desde outubro passado e subiu os depósitos compulsórios dos bancos por oito vezes desde o início de 2010. As informações são da Dow Jones.