O chefe da mais poderosa confederação tribal do Iêmen, Sadeq al-Ahmar, advertiu hoje, em carta enviada ao rei saudita, que o Iêmen pode entrar em guerra civil se o presidente Ali Abdullah Saleh receber permissão para voltar para casa. Saleh está na Arábia Saudita, onde se trata de graves ferimentos decorrentes de um ataque, no início do mês, a seu palácio na capital iemenita.

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Em sua mensagem ao rei Abdullah, al-Ahmar, o influente chefe tribal que já foi aliado de Saleh antes de mudar de lado, pediu ao monarca saudita que impeça Saleh de voltar para o Iêmen. “Seu retorno vai levar à sedição e à guerra civil”, disse al-Ahmar, segundo um comunicado de seu escritório. A Arábia Saudita é um importante parceiro do Iêmen e já havia pressionado Saleh a negociar um acordo para encerrar o tumulto político no país.

Centenas de milhares de iemenitas, inspirados por levantes em outros países do Oriente Médio, realizam protestos diários desde janeiro exigindo a saída de Saleh, que governa o Iêmen há 33 anos. A campanha tem sido majoritariamente pacífica, mas ocorreram confrontos em Sanaa entre homens leais a Saleh e combatentes da poderosa confederação tribal de al-Ahmar, a Hashid, depois que tropas se movimentaram para atacar a residência de al-Ahmar.

Os confrontos diminuíram desde que Saleh foi para a Arábia Saudita. O vice-presidente Abed Rabbo Mansour Hadi assumiu interinamente o cargo após a viagem de Saleh. Hoje, a oposição acusou o círculo interno de Saleh e sua família de dificultar o diálogo da oposição com Hadi. “Os filhos de Saleh não estão ajudando a resolver o problema e eles não ajudam o presidente interino a exercer seus poderes constitucionais”, afirmou o porta-voz da oposição Abdullah Oubal.

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Os partidos de oposição do Iêmen tentam persuadir Hadi e o partido governista a se juntar a eles num governo de transição que efetivamente excluiria Saleh, que enfrenta uma grande pressão, tanto no Iêmen quanto no exterior, para deixar o cargo. O filho do presidente, Ahmed, que comanda as mais bem treinada força militar do país, a Guarda Republicana, e é a principal força para a manutenção do poder por seu pai, se opõe às discussões com a oposição.

Abdul-Karim al-Iryani, conselheiro e auxiliar próximo de Saleh, chegou hoje a Riad para conversar com o presidente iemenita, que solicitou o encontro. Um membro da liderança do partido governista, que falou em condição de anonimato, disse que esperava “decisões muito importantes” após a reunião.

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Os Estados Unidos temem que o vácuo de poder no Iêmen abra caminho para o braço da Al-Qaeda no país. Washington acredita que esse seja o braço mais ativo da rede terrorista.

No final da noite de ontem, aviões do governo bombardearam um suposto esconderijo de militantes em Abyan, matando pelo menos 22 combatentes ligados à Al-Qaeda, disse um funcionário do Ministério da Defesa, em condição de anonimato.

Desalojados

Os confrontos entre forças do governo e supostos combatentes da Al-Qaeda no sul do Iêmen já desalojaram 45 mil pessoas, informou hoje a Agência de Coordenação Humanitária das Nações Unidas (OCHA). “A OCHA está preocupada com a situação de conflito no sul do Iêmen, na província de Abyan”, disse Elisabeth Byrs, porta-voz da OCHA. “Estamos preocupados com o resultado do desalojamento dessas pessoas.”

Ela disse que as agências humanitárias estimam que cerca de 10 mil pessoas tenham sido desalojadas na província de Lahj, 15 mil na província de Áden e mais 15 mil nas proximidades de Abyan.

Enquanto Byrs falava, confrontos aconteciam entre o Exército iemenita e supostos militantes da Al-Qaeda pelo controle da cidade de Zinjibar, no sul do país, disse um militar.

Citando dados não confirmados de autoridades iemenitas, Byrs disse que até 10 de junho 283 pessoas haviam morrido e 3.617 ficado feridas no levante popular contra Saleh. Ela disse não saber se os dados englobam apenas civis ou se também incluem soldados e supostos combatentes da Al-Qaeda. As informações são da Associated Press e da Dow Jones.