Chávez quer reunir-se com Lugo em breve

Nem bem foi proclamado presidente eleito do Paraguai, o bispo Fernando Lugo, da Aliança Patriótica para a Mudança (APC), coalizão que reúne desde movimentos de sem-terra até setores conservadores da centro-direita, recebeu enfáticos elogios do presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

O líder bolivariano, que nos últimos anos estendeu sua influência aos governos da Bolívia, Equador e Nicarágua, disse que espera encontrar Lugo pessoalmente "o mais rápido possível" para conversar "sobre planos de cooperação e complementaridade". Chávez ressaltou a necessidade de construir a União de Nações Sul-americana em contraposição aos Estados Unidos.

Em Quito, o presidente equatoriano Rafael Correa, amigo de Chávez, também celebrou a vitória de Lugo. Segundo ele, Lugo é um "tijolo a mais" na construção de uma América Latina "mais justa e socialista". Mas, em Assunção, Lugo evitou comparar-se com Chávez e a outros líderes afins à cartilha bolivariana.

Indicando que não tem similitudes com Chávez ou Morales, o presidente eleito do Paraguai autodefiniu-se como um homem "centro-progressita". Em declarações realizadas nesta segunda-feira (21) a um pequeno grupo de jornalistas brasileiros, entre eles a Agência Estado, Lugo preferiu comparar-se ao socialista moderado Tabaré Vázquez, presidente do Uruguai.

"Ele é o líder da Frente Ampla, uma coalizão de partidos com espectro ideológico amplo, tal como minha coalizão, a APC. Mas, a Frente Ampla uruguaia chegou ao poder depois de 30 anos de lutas. Nós cometemos essa ousadia em apenas oito meses", observou.

Figura nova no âmbito político regional, o presidente eleito – que há dois anos era bispo em um recôndito município do interior do Paraguai – destacou que não conhece pessoalmente os presidentes Morales e Chávez, entre outros.

Lugo, líder da Aliança Patriótica para a Mudança (APC), foi eleito neste domingo com 40,82% dos votos. O grande derrotado destas eleições foi o Partido Colorado, cuja candidata, Blanca Ovelar, obteve 30,72% dos votos.

Perguntado se havia recebido um telefonema de parabéns do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até a manhã desta segunda-feira (21), Lugo respondeu negativamente. Depois, explicou: "É que não sei se ele tentou me ligar. Não atendo o celular desde ontem. Acho que tenho umas 130 ligações perdidas". O bispo ressaltou que o primeiro telefonema de parabéns havia sido do embaixador dos EUA no Paraguai.

Em apenas oito meses, desde a criação da aliança que o levou a vencer a eleição presidencial, Lugo gradualmente passou de declarações da clássica esquerda latino-americana para posições moderadas de centro. Ele próprio, nas últimas semanas, fez questão de ressaltar sua "centralidade".

O politólogo Alfredo Boccia Paz disse à AE que Lugo poderia ser considerado um "socialista moderado". Ironizando, afirma: "ele é tão de esquerda quanto pode ser um bispo da Igreja Católica".

Segundo Boccia Paz, Lugo está "ancorado pelo mais rançoso conservadorismo do Partido Liberal Radical Autêntico (que lhe proporcionou seu candidato a vice, Federico Franco), ao barulhento Movimento Ao Socialismo. Dois grupos que estão nas antípodas ideológicas um do outro".

O analista acredita que Lugo evitará abraços apertados demais em Chávez e Evo Morales. "Terá um tratamento bom, mas não será excessivamente efusivo com eles."

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