Especialista em metalinguagem, o presidente Hugo Chávez enviou seu recado no discurso que fez, no sábado, encerrando a marcha de seus partidários em Caracas. “A disciplina é fundamental para o avanço da revolução e essa revolução tem um líder”, afirmou. “Não admitirei que minha liderança seja contestada, porque eu sou o povo, caramba!”

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Ao mesmo tempo, no Palácio de Miraflores, a sede da presidência, assessores trabalhavam num plano de contenção de danos para o anúncio oficial, na segunda-feira, da renúncia do vice-presidente e ministro da Defesa, general Ramón Carrizález – camarada de Chávez na fracassada tentativa de golpe contra Carlos Andrés Pérez, em fevereiro de 1992.

Figura discreta da velha-guarda do chamado “chavismo duro”, Carrizález teria divergido de Chávez em algumas decisões das últimas semanas, como a desvalorização do bolívar forte, no dia 8, a expropriação da cadeia franco-colombiana de supermercados Êxito e o excessivo protagonismo do presidente em seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

Além disso, a mulher de Carrizález, Yubiri Ortega, ministra do Meio Ambiente, também vinha recebendo críticas veladas por parte da chamada “nova geração” da revolução, que lhe responsabilizava em parte pela falta de ação em prevenir a crise energética – que obriga o governo a impor um rodízio de apagões programados no interior do país e corrói a popularidade de Chávez. Na última pesquisa do Datanálisis, no fim de 2009, a aprovação do presidente não passava de 46,5%.

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Oficialmente, Carrizález e Yurubi renunciaram por “estrita razão pessoal”. Mas a saída de cena repentina de mais um “histórico” do chavismo deu margem a uma série de interpretações. Incluindo a de que Carrizález teria se rebelado contra a intenção de Chávez de promover cinco coronéis cubanos para o nível de comando das Forças Armadas venezuelanas.

Processo de expurgo

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“O processo de expurgo de figuras da primeira geração do chavismo começou com a saída de José Vicente Rangel (então vice-presidente desde 2002) em 2007, quando Chávez decidiu aprofundar o caráter socialista da revolução bolivariana”, diz ao jornal O Estado de S. Paulo Anibal Rodríguez, analista da Universidade Central. “Ao contrário da velha-guarda, os líderes da chamada nova geração são muito menos resistentes às decisões do presidente e restringem-se a cumprir as ordens. A mensagem é a de que Chávez não abre mão de avançar com sua revolução à sua imagem e semelhança.”

As mudanças obedeceriam a um plano de Chávez para reafirmar sua liderança, reforçar o fervor revolucionário do governo e promover o que os analistas venezuelanos chamam de “renovação generacional”. Os novos escolhidos fazem questão de tornar pública sua lealdade a Chávez e à sua revolução. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.