O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ameaçou ontem intervir em empresas que aumentarem seus preços. Para muitos venezuelanos, a iniciativa é um esforço inútil para frear uma inflação de mais de 10%, no momento em que o país enfrenta uma desvalorização monetária. No entanto, Chávez está decidido a frear a inflação, mesmo que isso signifique enviar o Exército para impedir a alta dos preços.
Ele negou que a decisão dele na semana passada para desvalorizar a moeda venezuelana pela primeira vez em cinco anos causará uma alta nos preços para o consumidor e afirmou que os donos de lojas de varejo que fizerem isso correm o risco de perder seus negócios.
“Não há nenhuma razão para que alguém esteja subindo seus preços”, afirmou Chávez em seu programa de rádio, de onde pediu a seus simpatizantes que “denunciem o especulador publicamente, para que nós intervenhamos em qualquer negócio, de qualquer tamanho, que se preste ao jogo da burguesia especuladora”.
O presidente ordenou ao comando militar que se reúna com seus soldados, com o escritório de proteção ao consumidor e com funcionários da receita federal para fazer “um plano ofensivo” contra a especulação.
“Vamos fazer uma batalha contra a especulação”, afirmou Chávez. “Quero que a Guarda Nacional vá para a rua com o povo para lutar contra a especulação e tomar medidas”, disse ele, sem especificar quais seriam essas medidas. Chávez esclareceu ainda que o governo avaliará a possibilidade de autorizar o aumento nos preços de alguns produtos.
Arrecadação
A decisão de Chávez de desvalorizar o bolívar, a moeda local, tem como meta aumentar a arrecadação com o petróleo, combatendo a recessão econômica e permitindo ao governo aumentar seus gastos. Alguns críticos, porém, indicaram que a medida, bastante impopular, elevará inevitavelmente a inflação, que já é a mais alta da América Latina, com 25%, para níveis ainda maiores.
O câmbio oficial estava em 2,15 bolívares por US$ 1 desde a última desvalorização, em março de 2005. Chávez estabeleceu na sexta-feira dois tipos de câmbio no país, ao colocar o bolívar a 2,6 por dólar para bens prioritários, como alimentos e remédios, e outra taxa de 4,2 bolívares por dólar para importações de produtos não essenciais, como aparelhos de ar condicionado e rádios.
Chávez argumenta que esse novo câmbio ajudará a desestimular a importação de produtos não essenciais, como os do mercado de luxo. Com isso, aumentaria a produção local de alimentos e roupas, importados em grande parte pela Venezuela.
Alguns críticos, porém, notam que a desvalorização também agravará a inflação. O diretor do instituto de investigação local Cendas, Oscar Meza, afirmou que a medida deve levar o índice de inflação para além dos 33% neste ano, com aumentos nos preços dos alimentos de até 36%.
“O bolso dos venezuelanos, principalmente dos mais pobres, será o que pagará a desvalorização do bolívar”, previu Meza. “O governo está atuando como um batedor de carteiras, metendo a mão no bolso dos venezuelanos, tirando-lhes seu dinheiro para seguir financiando e pagando a política econômica irresponsável que pratica.”