O Irã espera uma resposta positiva da agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) e das potências mundiais à proposta de troca de combustível nuclear intermediada pela Turquia e pelo Brasil, disse hoje o ministro de Relações Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki, em Sofia, capital da Bulgária. Ele afirmou que quaisquer novas sanções do Conselho de Segurança (CS) da ONU contra a república islâmica a respeito de seu contestado programa nuclear serão contraproducentes.
“No meu entendimento, o grupo de Viena está considerando (o acordo) positivamente”, disse Mottaki à margem de um fórum de cooperação do Mar Negro em Sofia. “E tão logo a resposta do (diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Yukiya) Amano for feita, eu acho que as negociações vão começar.”
Mottaki se referia ao acordo – assinado pelo Irã, Brasil e Turquia no último dia 17 – que prevê que Teerã envie cerca de metade de seu estoque de urânio de baixo enriquecimento para a Turquia e, depois, receba um suprimento de urânio enriquecido em níveis mais altos para uso médico e em pesquisas.
O Irã notificou formalmente a AIEA sobre o acordo proposto na segunda-feira e a agência da ONU encaminhou cópias da carta ao chamado grupo de Viena – França, Rússia e Estados Unidos – que havia apoiado um acordo diferente intermediado pela ONU em outubro do ano passado. Por esse acordo, o Irã transferiria seu urânio para a Rússia e para a França, onde seria transformado em combustível para o reator de pesquisa que produz radioisótopos para uso médico.
O país persa esquivou-se do acordo original, insistindo que queria uma troca simultânea em seu próprio território. Da mesma forma, os governos do Ocidente desconsideraram a proposta do Irã, dizendo que ela não atendida às preocupações sobre o programa nuclear iraniano, que segundo Teerã tem propósitos civis.
Sanções
Mottaki disse que o Irã continua esperando a resposta tanto da AIEA quanto dos Estados Unidos, França e Rússia à sua proposta e se recusou a especular como seu país pode reagir se ela for rejeitada. O Irã prefere “olhar para o lado positivo”, disse ele. “Não recebemos” quaisquer sinais de que o acordo seria rejeitado, afirmou.
“Vamos manter nossa posição otimista e positiva para convidar a todos a fim de chegarmos a uma solução e essa é uma chance muito boa para os demais, para criar confiança para todos. Eu acho que é uma boa chance.”
O ministro argumentou que novas sanções da ONU contra o Irã não funcionarão. “Sanções são uma política fracassada, que eles testaram no passado. Se alguém está tentando se mover nessa direção, definitivamente vai perder”, disse Mottaki.
O Irã já está sob três rodadas de sanções por se recusar a interromper suas atividades de enriquecimento de urânio. Os Estados Unidos dizem que já tem o apoio dos demais quatro membros permanentes do CS – os aliados França e Grã-Bretanha, bem como os parceiros de investimentos iranianos China e Rússia – e está confiante de que podem conquistar os nove votos necessários no conselho de 15 membros para impor uma quarta rodada de sanções.
Inspeções
Inspetores da ONU que revisitaram um laboratório iraniano para analisar atividades que poderiam estar ligadas a um programa secreto de armas nucleares descobriram recentemente que alguns equipamentos que podem ter sido usados nos experimentos desapareceram, disseram hoje diplomatas.
Um eles afirmou que funcionários graduados da AIEA temem que a remoção tenha sido uma tentativa de acobertamento. Outros dois diplomatas confirmaram que alguns equipamentos desapareceram.
Um deles disse que ainda é cedo para tirar conclusões, dando a entender que ele pode ter sido levado para outro lugar para manutenção. Os três falaram sob condição de anonimato porque informações a respeito da investigação nuclear iraniana é confidencial.
A questão levantada é o piroprocessamento, um procedimento que pode ser usado para purificar urânio metálico usado em ogivas nucleares. Em janeiro, o Irã confirmou à agência que havia realizado experimentos de piroprocessamento, o que levou a AIAE a pedir mais informações – mas mudou de opinião em março durante comentários em uma reunião fechada com o conselho da AIEA. Com informações da Dow Jones.