O bloqueio e os ataques israelenses contra a Faixa de Gaza produziram nos últimos 12 dias um fenômeno nunca visto pelas agências humanitárias, a inexistência de refugiados, segundo o relator da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos nos Territórios Palestinos, Richard Falk. Apesar da violência dos ataques, apenas 30 palestinos teriam conseguido fugir da Faixa de Gaza desde o início dos bombardeios, dia 27.
“Neste conflito, Israel impôs uma proibição absoluta do direito de fugir. Não há precedente disso na história das guerras urbanas”, afirmou Falk, que esteve ontem em São Paulo, onde passa férias, depois de ter sido impedido pelo governo de Israel de desembarcar em Tel-Aviv dez dias antes do início dos ataques.
Do lado egípcio da fronteira com a Faixa de Gaza, na Passagem de Rafah, funcionários do Crescente Vermelho estão preparados para receber um fluxo de refugiados que ainda não veio. “Não só Israel impede essa fuga, mas também o Hamas e o Egito”, disse o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Simon Schorno.
“As pessoas estão presas numa armadilha. Não há nenhum lugar em Gaza que seja seguro hoje. Não há respeito aos civis nesta guerra”, disse Jessica Pourraz, coordenadora dos Médicos Sem Fronteira em Gaza.
A alternativa mais provável de fuga seria o Egito, que, juntamente com o governo francês, negocia um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Mas a disposição egípcia de ajudar não tem ido além do discurso. Até agora, Cairo recusa-se a abrir sua fronteira com Gaza.