Parentes de reféns das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) classificaram como uma "sentença de morte" a proposta do presidente colombiano Álvaro Uribe de os militares localizarem e cercarem os locais onde eles podem estar sendo mantidos. O governo da França também se posicionou contra a proposta. "Oponho-me fortemente a esse cerco militar porque é (decretar a) morte (dos reféns). Temos certeza de que os guerrilheiros têm ordem de matar se forem pressionados de alguma maneira e isso pode ser um motivo para que ameacem a vida de nossos entes queridos", disse em entrevista por telefone Edna Margarita Sánchez Rivas, irmã do tenente do exército Elkin Hernández Rivas, detido pelas FARC desde 14 de outubro de 1998.
No sábado, durante um conselho comunitário – uma reunião de ministros e autoridades locais, no departamento (Estado) de Vaupés, no sudeste colombiano – Uribe afirmou que "o governo deu instrução à força pública para localizar os locais onde estão os seqüestrados, cercá-los e, no momento em que estejam cercados, convocar a comunidade nacional e internacional para definir um procedimento humanitário para a liberação total dos seqüestrados" em troca de rebeldes presos.
Alejo Vargas, analista político e professor da Universidade Nacional, disse que a proposta de Uribe não é factível e que seu objetivo é criar polêmica. "Uma coisa é uma proposta para um público em um conselho comunitário e outra é sua viabilidade em termos de ordem estratégica e operacional", afirmou Vargas em entrevista para a rádio Caracol. Uma operação militar desse tipo acrescentou Vargas, é complicada devido ao terreno em que os agentes teriam que avançar. "Estamos falando, no caso, da selva colombiana, uma selva impenetrável, daí a possibilidade de cerco ser muito difícil. Se ele chegasse a ocorrer, o mais provável é que desembocasse em um confronto" armado entre rebeldes e militares, explicou.
O cerco militar "parece uma idéia descabida", disse à emissora o ex-presidente Ernesto Samper (1994-1998). "A proposta me parece muito perigosa. Se for concretizada, teríamos os efeitos psicológicos na guerrilha, de uma assédio militar sem os eventuais benefícios de um resgate", acrescentou, referindo-se ao fato de que se os rebeldes fossem militarmente pressionados, poderiam contra-atacar, o que colocaria em risco a vida dos reféns civis e militares.