Cerco à oposição acirra disputa interna no Irã

Há um ditado persa que diz: “Quando não há mais nada para comer, os lobos começam a devorar uns aos outros.” O regime iraniano foi tão eficaz em eliminar a oposição reformista e tecnocrata, que os conservadores agora disputam o poder entre si. Banida e silenciada, a oposição teve seus candidatos vetados, e convocou os eleitores a um boicote.

Num país em que não há pesquisas independentes nem informações confiáveis, isso tem ao menos um valor sociológico: foi possível observar, nas eleições parlamentares de sexta-feira, que tipo de pessoas apoia o regime, quais as suas razões e o seu volume.

“Votei nas pessoas que participaram da revolução, que conheço desde a revolução”, enfatizou o metalúrgico aposentado Ismail Nadi, de 72 anos, mostrando um papel em que estavam meticulosamente escritos à mão os nomes de 30 candidatos – o número de cadeiras no Parlamento que cabe ao distrito de Teerã.

Defesa da revolução

Nadi votou na lista Paydari, ou Frente da Firmeza, que apoia o líder espiritual Ali Khamenei, na disputa com o presidente Mahmud Ahmadinejad.

O presidente tenta deslocar o poder do clero para seu grupo de conservadores leigos.

“Ahmadinejad é bom, mas é só uma pessoa. Ele não é especial”, disse Nadi, comparando o presidente com o líder supremo. À pergunta sobre por que a Revolução Islâmica de 1979 é importante para ele, Nadi respondeu: “Só podemos contar conosco mesmos. Os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França deixam o seu país fazer o que querem?”

Essa é a narrativa central do regime: a de que o Irã é ameaçado pelas “potências arrogantes” e pela “entidade sionista”, que não querem que o país se desenvolva.

Até mesmo a inflação alta, que acometeu o país principalmente nos últimos seis meses, e atingiu 22% no ano passado, é diretamente vinculada à intensificação das sanções internacionais por causa do programa nuclear iraniano.

Num certo sentido, para os conservadores, é como se o Irã não tivesse problemas internos: todos têm causas externas. A dinâmica é muito parecida com a de Cuba, também alvo de embargo econômico americano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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