Foto: João de Noronha/O Estado

Dúvidas dos adolescentes são muitas: das dificuldades com os pais aos relacionamentos afetivos, passando por casamento e profissão.

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Nem ainda um adulto e nem mais uma criança. Esta descrição revela a dúvida que é a adolescência. Nesta fase, um período de transição, o adolescente busca identificar-se e inserir-se no mundo. É neste momento, portanto, que os questionamentos se intensificam, assim como a ansiedade de enfrentar as novidades da vida adulta que se aproxima. Adolescer é um fenômeno ?biopsicossocial?. É uma etapa delicada de transformações, que não se resume em apenas passar pela puberdade, quando a voz do menino muda, surgem as espinhas, a menstruação da menina chega e o corpo começa a se desenvolver.

A adolescência como se tem hoje, explica a psicóloga Nancy Greca Carneiro, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), no século passado não existia. Esse fenômeno, segundo ela, nasceu e é caracterizado historicamente. ?O período entre o deixar de ser criança e assumir responsabilidades de um adulto naquela época era muito curto e rápido. Sempre existiu, mas costumava ter acontecimentos e marcos muito precisos. Era um conjunto de rituais – a menstruação, o debutar, entre outros -, muito ligado ao fenômeno biológico da puberdade, tanto em sociedades orientais quanto ocidentais. Era objeto da antropologia?, cita a psicóloga.

No entanto, segundo ela, verifica-se um fenômeno muito interessante da chamada fase da adolescência, que costumava ser limitada entre os 13 e 18 anos. ?O que vemos atualmente é uma expansão da adolescência, que não pode mais ser vista como uma passagem. Hoje há uma antecipação exagerada da adolescência, ou seja, muito cedo perde-se a infância e as crianças começam a assumir comportamentos, hábitos e outras insígnias dessa nova fase – até a entrada precoce no mundo do namoro e do sexo, talvez pelo apelo da televisão e do mundo do consumo?, afirma Nancy.

Só que o inverso também é verdadeiro. ?Hoje também encontramos pessoas com mais de 25 anos com características de adolescentes. Temos inclusive o termo adultescente, considerando aspectos econômicos, ou seja, de um adulto que não trabalha, só está estudando, mora e é sustentado pelos pais; e aspectos sociais como o do casamento, que acontece bem mais tarde, e também o apelo da mídia, que incita o adulto a se adolescentizar pelas roupas, pela ânsia em manter a beleza?, aponta a professora da PUC.

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No entanto, de acordo com Nancy, alguns fenômenos seguem sendo importantes e acontecendo universalmente. ?O adolescente ainda se define por três aspectos: o encontro com o sexo e como administrar isso; as mudanças corporais e como se relacionar com o corpo nessa fase; e também pela nova relação que se estabelece com os pais, a pátria e as responsabilidades?, indica. Segundo ela, a adolescência é o termômetro da sociedade e quem vai assumir o destino da vida social vivida agora e, por isso, é uma fase que merece atenção e cuidado. ?O que acontece em nossa cultura hoje, em geral, é que é narcisista, imediatista, o que acaba produzindo adolescentes sem muitos ideais, perdidos na sociedade de consumo, que se dividem em muitas tribos?, diz Nancy.

Comportamento

A psicóloga Maria Augusta Guimarães tem contato direto com esse público. Ela coordena o núcleo de adolescentes da ONG curitibana Serpiá, um espaço de expressão, atividades e atendimento psicológico a essa faixa etária. Ela diz que algo universal nos adolescentes é a contestação e a rebeldia, que hoje aparece na moda, no pintar os cabelos, nos piercings e nas tatuagens – que aparecem mais cedo. ?É uma revolta contra o mundo infantil e adulto também, uma afronta. Não conseguindo se inserir em nenhuma das fases, surgem as confusões e, muitas vezes, se exteriorizam na aparência ou ainda pelo humor variante?, exemplifica.

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Segundo Maria Augusta, a adolescência é uma fase que traz muitas inseguranças, tanto psicológicas quanto fisiológicas e biológicas. É portanto, a fase do conflito.     ?Continua existindo o adolescente revoltado. É necessário passar por essa fase de contestação, para que tenha mais certezas no futuro. O que a gente vê, nessa etapa, é que eles mudam muito rápido de tribos, na busca de uma identidade e de um referencial. A menina que era patricinha vira skatista e ainda hippie ou intelectual?, comenta a psicóloga.

No dia-a-dia do trabalho com os adolescentes, Maria Augusta sabe bem sobre o que eles conversam hoje. ?Falam muito sobre as dificuldades com os pais, sobre os relacionamentos afetivos. Também têm dúvidas sobre casamento, profissão e dizem buscar um ideal de felicidade. As dúvidas são muitas?, conclui.

Ser pai de adolescente não é uma tarefa fácil

Rosângela dos Reis Rauch é mãe de uma adolescente de 15 anos. Ela diz que não é uma tarefa muito fácil e exige muita paciência, tolerância e união. ?Por um lado é bom, pois a conversa é mais franca e direta. Por outro, você tem que ter mais argumentos para convencer e os conflitos são diários?, diz. Assim como os adolescentes, também os pais têm suas dúvidas. ?Não sei se as dificuldades somos nós que fazemos, por falta de paciência e clareza. Mas o mundo está muito conturbado e vendo a tevê ou outras experiências acabamos desconfiando de nossos filhos, o que faz a gente passar um papelão e procurar um conflito que, algumas vezes, não existe. Acho que é a preocupação constante de mãe em preparar a filha para as responsabilidades. Também tenho alguns tabus, que preciso vencer, sobre certas conversas necessárias nessa idade. Enfim, é uma batalha diária?, resume Rosângela.

Já Marden Machado tem três filhos, um de 16, outro de 18 e uma de 19. Ele diz que os conflitos que aparecem em casa são mais de ordem administrativa, por conta do comportamento completamente diferente de cada um. Porém, ele diz que é tranqüilo. ?Não sei se é porque eu e minha esposa casamos muito jovens e procuramos sempre ser amigos, saímos juntos, vamos a show, cinema, livaria. Creio que depende muito dos pais. Muitos dos conflitos e rebeldias que sabemos que existem nesta fase nunca tivemos que enfrentar. As coisas aqui sempre foram sem estresse?, comenta.

?A entrada na adolescência marca o processo de distanciamento dos pais da infância. Nesta fase, a visão que se tem dos pais depende muito das particularidades de cada adolescente. Nem todos vivem isso de forma rebelde?, observa a psicóloga Shirley Rialto Cesarino. Segundo ela, é durante a adolescência que vive-se a degradação do saber dos pais e os questionamentos. ?É a queda dos pais como mito. É a morte dos pais idealizados, mas os conflitos são normais. Se isso não é vivido é de se estranhar?, opina.

A dificuldade dos pais também é comum. ?Os pais vivem como se estivessem se tornando obsoletos. Ao invés de perguntar para as mães, por exemplo, os adolescentes perguntam aos amigos, como se não precisassem dos pais. É necessário que os pais saibam superar isso, sem significar que estejam abandonando o filho e não se preocupando com ele. A questão é como lidar com esse conflito?, ressalta Shirley. (NF)

Vale quase tudo para estar de bem com o espelho

Rogério Scheibe: ansiedade.

As adolescentes, muitas vezes belas, ainda buscam o ideal de beleza e, para estarem de bem com elas, com o espelho e, principalmente com as outras adolescentes, buscam diversos recursos.

Na clínica de cirurgia plástica, desde cedo, lá estão elas. ?A jovem, desde cedo informada sobre o que pode obter e não satisfeita com a aparência, vai atrás disso. As meninas, já a partir dos 13, 14 anos querem fazer prótese de mama, lipoaspiração e o nariz. Tem procura e bastante. Aí que entra a seriedade do profissional e só fazer se há segurança e certeza científica, ou seja, se necessário. Acredito que esse exagero acontece porque a idéia de estética dela e da população não é real. Também porque nessa fase existe a ansiedade em ser adulta e uma bela mulher?, explica o cirurgião Rogério Augusto Scheibe.

No salão de beleza, a busca pelo ?mulherão? precoce continua. ?Esta fase é a fase da loucura pelo cabelo lisinho. 90% das adolescentes o querem e, para isso, fazem de tudo e ficam até mais de três horas no salão. Começa com um relaxamento, escova definitiva, escova temporária e algumas ainda procuram métodos que utilizam químicos?, conta a cabeleireira Duda Ongaro. Na sala de estética também há exageros. ?Com doze anos, já começam. Elas acham que têm muita barriga, querem melhorar as pernas e ficar impecáveis. Com 13, 14, 15 anos elas querem reduzir as medidas, procuram a drenagem linfática. Muitas já perguntam sobre a maquiagem definitiva, tiram as sobrancelhas já aos 13 anos, e até para alongamento dos cílios tive uma cliente com essa idade?, conta a esteticista Fabíola Ceppa.

A psicóloga Maria Augusta Guimarães lembra que a preocupação exagerada com a beleza, a forma e os parâmetros da moda hoje são preocupantes nessa faixa etária. Precocemente as adolescentes procuram meios de estarem ?perfeitas?. ?É preciso atentar-se para esta fase, pois os adolescentes ficam sujeitos às propostas da mídia e da sociedade de hoje?, destaca. (NF)