Catástrofes naturais: castigo divino ou expiações coletivas

d21.jpgMelhor se não dispússemos deste tema atualizado para análise. Profundo o pesar pelas notícias e imagens de morte e destruição no sul da Ásia e África, conseqüências das tsunamis, as ondas gigantes, provocadas por um fortíssimo maremoto em 26 de dezembro. Os números dão a dimensão da tragédia. Até o dia 30 haviam sido contabilizadas 123.000 mortes em treze países, milhões de desabrigados e 40 bilhões de dólares em prejuízos materiais.

Profecias de início do 3.º Milênio previam a ocorrência de muitas catástrofes naturais como erupções vulcânicas, terremotos, inundações e até choque de algum asteróide com a Terra. Análises de textos genuinamente espíritas não concordam com essas especulações apocalípticas. Em Obras Póstumas, livro publicado em 1869, após a desencarnação de Kardec, no capítulo que trata das Expiações Coletivas, lê-se: "Há as faltas do indivíduo, as da nação e todas (…) são expiadas". Na página 229 (2.ª ed., Lake, 1979), o Espírito de Hahnemann, ao responder sobre presumíveis acontecimentos graves que adviriam, admite não se poder precisá-los. "… haverá muita ruína e desolação porque são chegados os tempos preditos para renovação da humanidade." Explica que os cataclismos não seriam de ordem material, mas moral. O Espírito Verdade tranqüiliza: "Não temeis dilúvio, incêndios (…) nem outras coisas do gênero". Há referências (pg. 269) sobre quem será exilado da Terra; que não haverá aniquilamento repentino de uma geração e, mais à frente, coloca como sinais inequívocos da transformação, algo mais acelerada, o aumento do número de suicídios e das doenças mentais.

O maremoto da Ásia

Mas então como interpretar catástrofes como a acima? Só neste início de milênio tivemos três gravíssimas ocorrências. Em 26 de janeiro de 2001 cerca de 15.000 pessoas pereceram na Índia, 166.000 ficaram feridas e 370.000 casas foram destruídas. Numa trágica coincidência, em 26 de dezembro de 2003, outro terremoto matou 40.000 pessoas no Irã. Como se vê, não há discriminação. Ocorrências de menor escala repetem-se no Japão, Estados Unidos, América Central, Rússia, China e vitimam católicos, muçulmanos, hinduístas, budistas, xintoístas, ateus, turistas, ricos e pobres.

O século XX não foi e nem o XXI o será privilegiado em ocorrências naturais ou provocadas pelo homem como guerras sangrentas, naufrágios, quedas de avião, terremotos, inundações, pestes, erupções vulcânicas, furacões. Apenas há mais destaque na mídia instantânea. Sabemos nada ocorrer por acaso. Por trás de tudo, indivíduos, instituições e povos, está a Providência Divina expressa em leis perfeitamente sábias e justas. É absolutamente certo dizer que tais catástrofes representam um papel importante e necessário na vida do homem, ser imortal a caminho de Deus.

No cap. VI de O Livro dos Espíritos (Lei de Destruição), item II (Flagelos Destruidores) vemos as seguintes afirmações: 1 – Deus experimenta a humanidade com flagelos para fazê-la avançar mais rápido, realizando-se certos progressos morais em alguns anos o que demandaria muitos séculos; 2 – Deus pode e emprega diariamente outros meios para atingir esse fim mas o orgulho humano é um empecilho; 3 – o homem de bem sucumbe junto ao perverso mas isto importa pouco quando se analisa a transitoriedade do corpo físico em relação aos valores espirituais; 4 – as vítimas eventuais, isto é, aquelas que não precisavam passar por tal experiência, "terão em outra existência larga compensação pelos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar" e "esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades passageiras no destino do homem"; 5 – são provas que proporcionam ao homem a oportunidade de exercitar a inteligência, mostrar paciência e resignação ante a vontade de Deus e lhe desenvolvem sentimentos de abnegação, desinteresse próprio e amor ao próximo; 6 – o homem pode evitar alguns deles porque resultam de sua própria imprevidência (destruição ambiental?), mas muitos são de natureza geral, pertencem aos desígnios de Deus e cada indivíduo recebe maior ou menor quota conforme sua responsabilidade.

Em Obras Póstumas há uma comunicação do Espírito de Clélie Duplantier que fala dos erros do homem no âmbito individual, familiar e como cidadão. Nem sempre a postura moral é a mesma nas três esferas e quando alguém participa da exploração alheia, práticas arbitrárias de poder ou qualquer ação em grupo que traz conseqüências negativas para indivíduos, grupo de pessoas ou nações como no caso dos governantes, ainda que eventualmente tenham sido bons cônjuges ou pais, terão que expiar aquelas faltas perante a justiça divina. Além do mais, muitos aparentemente justos, bons e honestos hoje, têm seu passado ignorado e os olhos humanos são incapazes de lhes perceber a bagagem espiritual.

A solução das expiações coletivas não pode ser generalizada. Em geral, reencarna-se no seio da mesma coletividade e até na mesma família. No caso da Índia que é um povo milenar, segundo país mais populoso do mundo e até por sua formação religiosa, com crença na reencarnação, é possível conjecturarmos sobre razões cármicas (conceito deles para a lei de causa e efeito). Freqüentemente aquele povo é atingido por todo tipo de catástrofes: inundações, terremotos, epidemias, guerras religiosas, desabamentos, inúmeros acidentes graves de ônibus, trem e avião, explosões, gases venenosos etc. Já no caso de El Salvador, também vítima de terremoto em 2001 com 1.000 mortos, historicamente, qual o grande crime que esse povo teria cometido? Então, a tese de que catástrofes e mortes coletivas indicam a possibilidade também de expiações coletivas, parece correta. Mas nem sempre e nem para todos. Kardec e os Espíritos recomendaram-nos o uso da fé racional, baseada na lógica. E é assim que devemos proceder.

Coluna da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná – e-mail: adepr@adepr.com.br

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