Os argentinos estão vivendo desde hoje seu primeiro feriado de carnaval em 35 anos. Em setembro passado, em uma cerimônia com toda pompa, o feriado foi reimplantado pela presidente Cristina Kirchner. Desta forma, acabou a proibição determinada pelo general Jorge Rafael Videla, presidente da ditadura militar (1976-83).
Mais de duas centenas de “murgas” (blocos) saíram às ruas em diversos bairros portenhos para os festejos de Momo. Com uma metáfora marinheira, Félix Loiácono, diretor do bloco “La Garufa”, do bairro portenho de Constitución, afirmou: “este feriado recuperou as águas que fazem que o navio do carnaval volte a navegar”.
As murgas são caracterizadas pela extrema informalidade. Para integrar os blocos carnavalescos portenhos não é preciso saber dançar, já que basta comparecer com uma fantasia para participar.
O carnaval é celebrado com diferentes estilos no interior do país. Enquanto que nas província do norte da Argentina como Salta e Jujuy os festejos possuem uma forte marca indígena, na cidade de Gualeguaychú, na província de Entre Ríos, na fronteira com o Uruguai, o carnaval é inspirado no estilo carioca, com carros alegóricos, escassa vestimenta dos foliões e baterias. Segundo os gualeguaychenses – que até construíram um “corsódromo” (em alusão a “corso”, denominação local dos desfiles) – o carnaval local é uma espécie de “irmão caçula” do carioca.
Proibições
O carnaval argentino sofreu seus primeiros obstáculos com a morte de Evita Perón, em julho de 1952. O governo do viúvo, o presidente Juan Domingo Perón, implantou um clima de luto que predominava sobre o cotidiano. Desta forma, foram suspensos os carnavais de 1953, 1954 e 1955. A queda de Perón foi acompanhada pela volta do carnaval 1956.
No entanto, em março de 1976, o golpe militar, comandado pelo general Videla, fez o carnaval novamente desaparecer da agenda dos argentinos. O ditador proibiu o uso de fantasias com o argumento de que guerrilheiros poderiam esconder-se sob as máscaras e realizar ataques terroristas. Além disso, impediu a reunião de pessoas para festejos públicos e suprimiu o feriado de carnaval.
A volta da democracia, em 1983, não implicou em uma recuperação imediata do carnaval. As murgas, lentamente, foram ressurgindo ao longo dos anos 90. Em 1998 existiam somente 30 murgas. No entanto, a crise de 2001-2002, que mobilizou todos os setores da sociedade, implicou em uma revitalização das manifestações e festejos populares. Desta forma, dos 100 blocos registrados em 2001, atualmente existem mais de 200.