Caranguejo-do-mangue ameaçado no Paraná

Um animalzinho curioso e que chama a atenção pelo tamanho das garras e pela forma diferente de andar está ameaçado de extinção e vem sendo cada vez menos encontrado no Paraná. Trata-se do caranguejo-uçá (Ucides cordatus), que vive em mais de duzentas áreas de mangue existentes no litoral. Para protegê-lo, integrantes do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) de Paranaguá estão pensando em criar regras especiais para a captura do crustáceo.

?Atualmente, qualquer um pode entrar no mangue e retirar os caranguejos. Estamos estudando a possibilidade de fazer com que a captura seja exclusiva dos pescadores?, diz o engenheiro agrônomo do IAP da cidade litorânea, Reginato Bueno. ?O caranguejo é comercializado em dúzia, por preços que variam de R$ 3 a R$ 12, dependendo da disponibilidade. Do animal, são usadas para alimentação a carne das patas e da carapaça. Esta é muito utilizada pelos nativos para fazer pirão?.

O período de reprodução do caranguejo-uçá vai do final de novembro até o mês de março, quando eles saem das tocas nas noites de lua cheia para acasalar. Em todo o litoral paranaense, a captura do crustáceo é permitida apenas entre 20 de dezembro e 21 de março, tempo em que as fêmeas já estão ovulando. Em qualquer época, elas não podem ser retiradas do mangue, sendo que só é permitida a captura, a comercialização e o consumo dos machos.

?Se estas regras fossem respeitadas, o caranguejo-uçá não correria risco de extinção. O problema é que elas não são. Além disso, o crustáceo deve ser capturado com a mão. Porém, as pessoas têm se utilizado de fios de nylon. Elas fazem um laço com o fio e o colocam na toca do caranguejo. Quando o animal sai, acaba se enroscando e não conseguindo mais voltar para dentro. O problema do laço é que ele pega todos os indivíduos e, muitas vezes, os capturadores não voltam para recolher os animais enroscados, que acabam morrendo no próprio lugar em que foi colocada a armadilha?, explica o engenheiro.

Outros fatores de risco ao crustáceo são os aterros realizados nos mangues, a poluição gerada pelo esgoto lançado nos rios e os desmatamentos. Tudo isto faz com que hajam quebras na cadeia alimentar do bicho e com que ele vá sendo expulso de seus habitats naturais e eliminado.

Características

O caranguejo-uçá também é chamado de caranguejo-do- mangue. Ele é o mais consumido no litoral do Paraná e também o que tem o maior tamanho. Para ser capturado, precisa ter no mínimo sete centímetros de carapaça, o que muitas vezes também não é respeitado. Quando o crustáceo consegue sobreviver, o tamanho da carapaça pode chegar até doze centímetros. O animal se alimenta de folhas de mangue e, dependendo da alimentação, pode ser marrom-escuro, azulado, esverdeado ou amarelado.

Guaiamun também pode desaparecer

Outro caranguejo que corre risco no Paraná é o guaiamun (Cardisoma guanhumi), cuja captura também é proibida no Estado entre os dias 20 de dezembro e 21 de março. Ao contrário do caranguejo-uçá, o guaiamun é uma espécie que vive no mar, principalmente em meio a rochas.

?O animal é bem maior, podendo medir até dezessete centímetros de carapaça, é marrom-escuro e tem patas grandes. Ele também está ameaçado de extinção devido à captura irregular, à ocupação urbana no litoral e à poluição ambiental?, esclarece Reginato.

Porém, os caranguejos não são os únicos crustáceos ameaçados. Junto com eles, está o camarão-sete-barbas, cujo período de defeso ocorre entre primeiro de outubro e 31 de dezembro, época de reprodução. Entre estes dias, é proibida tanto a pesca quanto a comercialização e o consumo do bicho. Em função disso, alguns pescadores recebem seguro-desemprego para continuar se mantendo.

?Também existem diversas espécies de peixes ameaçadas. Entre todas as espécies que vivem no mar, o crescimento do número de pescadores e a melhoria dos apetrechos de pesca representam perigo. A pesca de arrasto, por exemplo, é altamente predatória, pois promove uma varredura no fundo do mar?, afirma.

O arrasto, além de capturar o que é de interesse dos pescadores, pega também filhotes, larvas, fauna acompanhante e flora. Normalmente, os responsáveis pela pesca aproveitam apenas 2% de tudo o que é levado para fora da água. ?A situação é séria e a conscientização dos pescadores é difícil, pois esbarra em um problema social, sendo que na maioria das vezes eles não têm outra fonte de renda que não seja a pesca?, finaliza o engenheiro do IAP. (CV)

Caranguejo disfarçado de siri

Foto: Divulgação

O Maria-mole costuma ser confundido com siri pelo aspecto.

Muitas pessoas não sabem a diferença entre um caranguejo e um siri. Os dois crustáceos são realmente muito parecidos e pouco diferenciados por leigos. Porém, Reginato informa que eles não são a mesma coisa e que existem diferenças marcantes entre ambos, principalmente em relação ao habitat e às características da carapaça.

Enquanto os caranguejos vivem, em sua maioria, em áreas de mangue, os siris habitam mais o fundo do mar. Já em relação à carapaça, os siris as têm mais achatadas e dotadas de espinhos. Enquanto isso, as dos caranguejos são mais arredondas e desprovidas de espinhos.

No litoral do Paraná, entre os crustáceos mais facilmente visualizados pelos turistas está um que tem nome de sobremesa: maria-mole. Muita gente acredita que o bichinho é um siri, mas na verdade ele é um caranguejo de cor amarelada, quase branco, que faz buracos na areia das praias, muitas vezes se confundindo com ela.

?O animal se alimenta de algas trazidas pela maré e que permanecem na areia. Chega a ter cinco centímetros de carapaça, mas é mais comum vê-lo no tamanho de dois a três centímetros?, afirma o integrante do IAP. O bichinho é ligeiro e se esconde nos buracos diante de qualquer aproximação de seres humanos ou quando observa alguma coisa que lhe represente perigo.

Ao contrário do que acontece com o caranguejo-uçá, o Maria-mole sofre pouca pressão humana, normalmente não sendo capturado para alimentação. Porém, também o ameaçam as especulações imobiliárias e a poluição. (CV)

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo