Inicialmente previstas para serem concluídas até dezembro, as obras de restauração da Capela Santa Maria, no centro de Curitiba, foram prorrogadas até o final do primeiro semestre de 2003. Objetos antigos encontrados nas escavações e problemas técnicos provocaram a alteração do cronograma. Mais de 100 fragmentos de objetos foram retirados do local pela equipe do arqueólogo Miguel Antônio Gaissler, que acompanha os trabalhos. Entre eles estão cacos de louças inglesas do século XIX, pedaços de ferro e outros metais, restos de garrafas antigas, ossos bovinos e cápsulas de armas de caça.
A operação faz parte de um procedimento que a Prefeitura começa a implementar em Curitiba. “Pretendemos fazer um acompanhamento arqueológico de todas as obras que possam comprometer a memória da cidade”, explica.
Na primeira fase, o arqueólogo trabalha em conjunto com os operários, selecionando todos os objetos encontrados nas escavações com a ajuda de uma peneira. Essa etapa deve levar ainda uns dois meses. Em seguida, o material é limpo, estudado e catalogado, para que se produza um relatório. “Esses objetos possivelmente revelam o cotidiano da população curitibana do início do século passado”, observa o arqueólogo. Ele diz que a maioria foi encontrada em um depósito, uma espécie de “lixeira” descoberta abaixo do antigo assoalho da capela.
“Tudo isso faz parte de um grande quebra-cabeça, que pode ajudar a contar a história do subsolo de Curitiba. É um processo de reconstrução do passado”, compara Miguel. “E é responsabilidade do Estado, da União e dos municípios proteger a memória e o patrimônio cultural de cada região. A Prefeitura está fazendo a sua parte.”
Mas não há nada, segundo o arqueólogo e os técnicos do Ippuc, que justifique a transformação da obra em sítio arqueológico. “São peças muito recentes, do ponto de vista arqueológico. É um material importante, mas que precisa ser confrontado com outras evidências históricas. A capela não vai se tornar uma ruína a ser preservada”, conclui o supervisor de planejamento do Ippuc, Ricardo Bindo.
Espaço abrigará Camerata Antiqua
Luigi Poniwass
Inaugurada em 1939, a capela fazia parte do antigo Liceu Santa Maria, que ficava na esquina da Rua Marechal Deodoro com Conselheiro Laurindo, no coração da cidade. O imóvel estava abandonado desde 1983, quando o Santa Maria se mudou para o bairro do São Lourenço. Em 1998, o espaço foi doado à Prefeitura, que decidiu transformá-lo em espaço cultural.
Entre as principais características da construção estão os vitrais, as pinturas decorativas das paredes, os relevos do teto em estuque e os detalhes ornamentais, típicos da arquitetura do início do século XX. O projeto de restauro prevê a recuperação integral dessas características e a transformação da capela num espaço cultural multifuncional, capaz de abrigar e conceber espetáculos de teatro, música e dança.
Uma das funções já definidas será servir como sede para a Camerata Antiqua de Curitiba. Criada há 27 anos, a Camerata usa as instalações do Solar do Barão para ensaios e não tem um local para apresentações. O espaço também deve abrigar o Centro de Estudos da Voz, com cursos, oficinas e salas de ensaio para os profissionais da voz.
“Também estamos conversando com os comerciantes das redondezas, para que invistam em cafés e livrarias, que vão servir ao público que vai freqüentar o novo espaço”, conta Cássio Chamecki, presidente da Fundação Cultural de Curitiba. A obra faz parte do programa de revitalização do centro, e está sendo financiada com recursos do Fundo de Desenvolvimento Urbano (FDU), do governo do Estado.