Candidato presidencial paraguaio critica tratado de Itaipu com o Brasil

Assunção – Fernando Lugo, ex-bispo candidato presidencial no Paraguai, contestou nesta quinta-feira (29) as declarações do diretor da hidrelétrica de Itaipu, o brasileiro Jorge Samek, sobre os supostos benefícios que seu país teria com a usina – um consórcio entre paraguaios e brasileiros – e denunciou desigualdades a respeito da represa binacional.

Lugo, líder da coalizão oposicionista "Alianza Patriótica para el Cambio" e primeiro colocado na corrida presidencial, publicou hoje na imprensa paraguaia uma carta aberta dirigida ao diretor brasileiro.

No texto, Lugo contesta as declarações de Samek publicadas no portal virtual "IHU On-line", sobre os "benefícios" que o Paraguai receberia da hidrelétrica em comparação com aqueles que o Brasil recebe.

Segundo o candidato paraguaio, tal carta lhe foi rejeitada na Embaixada do Brasil em Assunção, porque "essa pessoa [Lugo] não trabalha no local [Itaipu]". Em razão disso, publicou-a abertamente.

O Paraguai é proprietário de 50% da energia elétrica gerada pela represa e recebe de Itaipu cerca de US$ 300 milhões anuais em ‘royalties’ e outras compensações. Segundo o Tratado de Itaipu, o excedente da energia não utilizada pelo Paraguai deve ser vendido exclusivamente ao Brasil.

Como o Paraguai quase se auto-abastece com uma única usina interna, acaba tendo um grande excedente na binacional de Itaipu, do qual os brasileiros têm total exclusividade.

E o Brasil, segundo freqüentes declarações de técnicos e da imprensa local, leva a energia paraguaia por um preço fixo de menos de US$ 3 a cada MW/h, enquanto vende a mesma energia por US$ 70 em seu mercado interno e por US$ 100 à vizinha Argentina, a cada MW/h.

Lugo explica assim em sua carta: "A totalidade da energia gerada em Itaipu, como o senhor mesmo calcula na extensa entrevista ao IHU On-line [dirigindo-se a Samek], é equivalente a 560 mil barris de petróleo por dia".

Depois, o candidato acrescenta que o remanescente da energia paraguaia que chega obrigatoriamente ao Brasil equivale a 224 mil barris de petróleo por dia.

"Segundo seus próprios cálculos, o senhor [o brasileiro Samek] está reconhecendo que o Paraguai recebe por ‘royalties’ e compensações o equivalente a menos de 10 mil barris de petróleo por dia (a preço atual de mercado), enquanto o Brasil evita queimar os 224 mil barris por dia graças à energia paraguaia de Itaipu", argumenta Lugo.

O político paraguaio lembra também, na carta, que o presidente Lula afirmou que o Brasil não crescerá às custas dos países mais pobres.

"Explique-nos o senhor, engenheiro Samek, se não é um enriquecimento ilegítimo do Brasil o fato de levar a energia paraguaia de Itaipu, equivalente a 224 mil barris de petróleo por dia, como o senhor mesmo calculou, e pagar por isso o preço de 10 mil barris", desafia Lugo.

Respondendo à pergunta formulada por Samek, sobre o que seria do Paraguai sem Itaipu, Fernando Lugo rebate com outra questão: "O que seria do Brasil sem Itaipu?".

A hidrelétrica binacional de Itaipu é hoje a maior do mundo (até o momento em que a China ligue sua represa das Três Gargantas) e responde por 20% da demanda energética do Brasil.

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