Um dia após representantes do Alto Comissariado da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos chegarem a Honduras, o governo de facto de Roberto Micheletti publicou ontem a revogação oficial do estado de sítio. A medida de exceção havia sido imposta no dia 22, logo depois de o presidente deposto Manuel Zelaya retornar clandestinamente ao país. Com o recuo, a Rádio Globo e o Canal 23 – as duas principais vozes zelaystas, que haviam sido fechadas – voltaram ao ar.
Micheletti havia prometido no dia 5 revogar o estado de emergência, mas a medida só foi publicada no Diário Oficial ontem. Segundo o governo de facto, a impressora que seria usada estava “com problemas”.
“Aproveitamos a presença da ONU para reabrir”, afirmou David Romero, diretor da Rádio Globo. Embora comemore o reinício das atividades, ele admite que a rádio estará submetida a uma espécie de autocensura. “Pedimos a todos que evitem adjetivos qualificativos, palavras grosseiras e qualquer tipo de violência verbal.” Um decreto adicional que fora publicado pelo governo de facto há oito dias e continua em vigência, segundo o qual empresas de comunicação que “incitarem a anarquia” terão licenças cassadas, ainda ameaça veículos pró-Zelaya.
O equipamento da Rádio Globo, confiscado por militares e policiais no dia 28, até agora não foi devolvido. “Estamos na Justiça atrás disso”, disse Romero. A Rádio Globo foi alvo de duras críticas por ter insinuado uma conspiração judaica em Honduras e até exaltado Adolf Hitler. O Canal 36 de TV, também amplamente favorável a Zelaya, voltou ao ar no fim da tarde de ontem.