Um grupo de trabalhadores rurais sem-terra do empobrecido departamento (Estado) paraguaio de San Pedro, norte do país, anunciou a iminente invasão de duas grandes fazendas produtoras de soja, como forma de forçar o presidente Fernando Lugo a realizar uma reforma agrária. A informação foi fornecida pelo líder do grupo, José Rodríguez. “Sabemos que é ilegal ingressar em propriedade privada, mas não nos resta outro caminho”, afirmou Rodríguez, dirigente da organização Luta pela Reforma Agrária e pela Soberania, à rádio Primero de Marzo, de Assunção.

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Ele disse que as fazendas que serão invadidas pertencem ao brasileiro Ulisses Teixeira – cuja propriedade, de 22 mil hectares, fica no distrito de Santa Rosa del Aguaray – e a fazenda Carla María, com 15 mil hectares, pertencente ao empresário paraguaios José Rodríguez, localizada no distrito Capiibary. As duas propriedades ficam no departamento de San Pedro, cerca de 340 quilômetros ao norte da capital Assunção.

“Levamos muitos anos esperando a reforma agrária, mas o presidente Lugo está demorando para colocá-la em prática. Já não existem mais terras públicas, então o Estado deve se ocupar dos milhares de compatriotas pobres que querem adquirir propriedades”. Rodríguez admitiu que a economia paraguaia atualmente é sustentada “com os ingressos ao fisco dos impostos provenientes da soja e do gado, mas o povo em geral não se beneficia desses recursos. Os pobres necessitam de terra para cultivar e subsistir”.

O Paraguai é o terceiro produtor de soja na América do Sul, atrás do Brasil e da Argentina. A Câmara de Exportadores de Grãos e Oleaginosas informou que neste ano o país atingiu recorde de produção de soja, com sete milhões de toneladas cultivadas em 2,6 milhões de hectares. “A agricultura empresarial e mecanizada avança no país, mas ao custo da derrubada de extensas áreas de floresta. Além disso, o cultivo da soja contamina os cursos de água com pesticidas químicos”, afirmou Rodríguez.

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Alberto Alderete, que recentemente renunciou ao cargo da direção do escritório estatal de reforma agrária, informou que nos dois anos do atual governo “pudemos entregar apenas 1.026 títulos de propriedade aos camponeses”. O mandato de Lugo vai até 2013.