Em meio à pior recessão dos últimos 70 anos e o constante debate sobre a imigração, a Europa busca uma identidade comum para todo o continente. O tema tem motivado polêmica em países como França, Suíça e Áustria. Defensores de direitos humanos acusam partidos de direita de usar a discussão para criar medo e ganhar votos.
Nos últimos meses, o número de propostas para defender identidades nacionais na Europa explodiu em vários países. Na Itália, restaurantes de comidas étnicas passaram a ser limitados, por iniciativa da Liga Norte, que integra a coalizão do premiê Silvio Berlusconi.
Na França, parlamentares propuseram a proibição de bandeiras de países estrangeiros em atos oficiais – além da meta francesa de banir burcas e véus islâmicos. O presidente Nicolas Sarkozy, neto de estrangeiros, abriu um debate nacional sobre o significado de ser francês. As estatísticas no país são claras: 25% da população têm avós vindos das ex-colônias do norte da África.
A maioria desses imigrantes vive nas periferias das grandes cidades e eles são os primeiros a serem afetados pelo desemprego e corte de gastos sociais, o que leva muitos deles a integrar movimentos radicais.
Encruzilhada
Para o Centro Nacional Francês para a Pesquisa Científica, a Europa está em uma encruzilhada. Oficialmente, a União Europeia (UE) é o maior símbolo da diversidade, com 23 línguas oficiais e medidas de defesa da diversidade. Mas nem o modelo britânico de multiculturalismo nem o modelo francês de promover uma assimilação secular deram o resultado esperado.
Em algumas prisões da Europa, como em Genebra, quase metade dos detentos é muçulmana. Mais de 70% são estrangeiros. Em todo o continente, dados oficiais apontam que os muçulmanos chegariam a 15 milhões. Sem um projeto de integração e o aumento da tensão, quem ganha espaço são os partidos de direita que prometem soluções radicais.
Um estudo realizado pelo Open Society Institute, publicado há poucas semanas, mostrou que o desemprego entre os muçulmanos é três vezes maior do que a média da população europeia. No entanto, a crise de identidade não se limita ao Islã. Com a abertura das fronteiras para o leste, a presença de romenos nas ruas das grandes cidades passou a ser uma realidade.
Em Genebra, flanelinhas já pedem dinheiro nos semáforos, para o assombro da população. A solução encontrada pelos suíços foi rápida: criminalizar quem mendigar, com pena de prisão.