O Brasil vai receber nos próximos dias o primeiro grupo de refugiados palestinos que viviam no Iraque. Mas o processo para transferi-los para São Paulo e Porto Alegre está sendo permeado por pressões políticas e uma complexa negociação diplomática entre a ONU, países árabes e o Brasil, entre outras nações. Até as autoridades palestinas tentaram evitar que refugiados fossem enviados ao Brasil. Um dos instrumentos de pressão pela criação de um Estado palestino é a existência de milhões de palestinos em campos de refugiados na região.
?Essas pessoas se tornaram bolas que eram jogadas de um lado para outro, dependendo dos interesses políticos?, afirmou Imran Riza, principal representante do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) em Amã. A embaixada brasileira na Jordânia também aponta para a sensibilidade do assunto.
O plano da ONU é embarcar para o País já nesta semana um primeiro grupo de cerca de 40 refugiados que, antes de ser trazidos para a Jordânia, viviam em Bagdá. Eles deixarão para trás quatro anos de sofrimento em barracas no deserto perto da fronteira entre Jordânia e Iraque. Até outubro, o Brasil receberá 117 refugiados. Para a ONU, os palestinos que estavam em Bagdá acabaram sendo uma das principais vítimas da guerra no Iraque.
Nos anos 80, os palestinos foram recebidos como refugiados pelo ditador Saddam Hussein em Bagdá como sinal da aliança entre o regime iraquiano e o líder palestino Yasser Arafat. Saddam fez questão de distribuir apartamentos, desalojando seus inimigos xiitas. Em 2003, ano da queda do regime de Saddam, 25 mil palestinos viviam em Bagdá. Mas, identificados como protegidos de Saddam, os palestinos, muçulmanos sunitas, foram perseguidos pelas milícias xiitas.
Como poucos países aceitaram receber esses palestinos como refugiados, um campo perto da vila de Ruwaishid, na Jordânia, foi a única solução para muitos. A ONU tentou convencer uma série de países a recebê-los e, na maioria dos casos, não conseguiu autorização. Um dos poucos países que aceitaram foi o Chile. Para a ONU, a decisão do Brasil trará uma solução para a questão dos refugiados palestinos do Iraque e esperança que a iniciativa sirva de exemplo para outros países. As informações são do jornal O Estado de S. PaulO.