De mãos atadas para mediar uma solução para a crise em Honduras, o Itamaraty espera que o presidente de facto Roberto Micheletti se afaste temporariamente do poder a partir de amanhã, como prometeu. Nesse meio tempo, uma decisão poderá mudar o cenário político hondurenho e evitar uma divisão entre Estados Unidos e Brasil dentro da Organização dos Estados Americanos (OEA). O Itamaraty espera que o Congresso hondurenho, três dias depois da eleição presidencial de domingo, decida pelo retorno do presidente deposto Manuel Zelaya ao poder.

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“Em vez de golpista em férias, esperamos que Micheletti torne-se um golpista aposentado”, resumiu, com ironia, Renato de Ávila Viana, chefe da Divisão do México e América Central do Itamaraty. O governo brasileiro já absorveu como fato consumado que as eleições de domingo ocorrerão sem o retorno de Zelaya à presidência.

No entanto, o País não reconhecerá como legítimo o vencedor da votação se o poder não for restituído a Zelaya – para o Itamaraty, esse é o ponto-chave do Acordo San José-Tegucigalpa. A questão está fechada e não há possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltar atrás, mesmo sob pressão ou tentativa de persuasão dos EUA, que interpretam o acordo com mais flexibilidade.

Na segunda-feira, na OEA, o secretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, reiterou a posição da Casa Branca de que as eleições de domingo são necessárias, embora não suficientes, para levar Honduras à normalidade democrática. Para o governo norte-americano, é imprescindível a formação de um governo de unidade nacional, com ou sem a presença de Zelaya.

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Fim da lua de mel

A divisão sobre o reconhecimento das eleições em Honduras acabou definitivamente com a lua de mel entre os líderes latino-americanos e o presidente dos EUA, Barack Obama. “O impasse destruiu as esperanças de que, com Obama, as relações entre os EUA e a região seriam menos conflituosas e tomariam novos rumos”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo Marcelo Coutinho, coordenador do Observatório Político Sul-Americano. Para ele, Honduras se tornou o cenário de “velhos conflitos ideológicos” – de um lado, os EUA e seus aliados conservadores e, do outro, os governos de esquerda, em geral antiamericanos.

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