Ainda que de forma velada, o Brasil criticou ontem o Irã na Organização das Nações Unidas (ONU), ao declarar que a conferência contra o racismo que termina hoje em Genebra não deveria ter servido de “um palco para fomentar a intolerância”. Teerã respondeu, alertando que as críticas do Brasil não eram um bom sinal, às vésperas da viagem do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad ao País, em maio. O governo, porém, optou por não citar nominalmente o Irã ou Ahmadinejad.
O Itamaraty também evitou palavras como “condenação” ou “rechaço” – usadas por outros governos para criticar o discurso do líder iraniano de segunda-feira, no qual ele qualificou Israel de “racista” e voltou a questionar o Holocausto. “Uma conferência sobre tolerância não pode ser um palco para fomentar a intolerância, nem para diminuir o sofrimento do passado”, disse a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo.
Governos como o dos Estados Unidos, França, Alemanha, Argentina e Grã-Bretanha criticaram o discurso. Pelo menos 229 pessoas foram expulsas da ONU, quase todos membros de ONGs judaicas que tentaram interromper o discurso de Ahmadinejad. Segundo a embaixadora brasileira na ONU, um país não pode esperar que seus apelos sejam entendidos se, ao mesmo tempo, “a realidade dolorosa de outros é ignorada”.
Para completar, o Itamaraty ainda citou um poeta persa, Sa’adi. O poema usado serviu como um ataque diplomático aos iraniano e lembra que os direitos humanos são universais. “De uma só essência é a raça humana. Nisso a criação se baseou. Um membro impactado é suficiente para que todos os demais sintam o sofrimento”, citou a embaixadora. “Não promovemos o ódio, não citamos nenhum país nem acusamos ninguém”, afirmou Hussein Rezvani, um dos principais negociadores da chancelaria iraniana. “Esses comentários (do Brasil) não são um bom sinal diante da visita (de Ahmadinejad)”, disse.