O governo boliviano pediu ao Brasil que expulse dezenas de opositores que cruzaram a fronteira para se refugiar em território brasileiro após o decreto de estado de sítio no Departamento (Estado) de Pando, anunciado depois que uma onda de violência deixou pelo menos 15 mortos. Pando faz fronteira com o Estado brasileiro do Acre e calcula-se que 400 bolivianos simpatizantes do prefeito (governador) Leopoldo Fernández cruzaram a fronteira, denunciaram familiares dos fugitivos.
Fernández está detido em La Paz sob acusações de genocídio. Nesta sexta-feira (19) ele disse que nunca pediu asilo ao Brasil e afirmou ter pensado em se suicidar quando foi detido na quarta-feira. O prefeito do Departamento afirmou que é vítima de uma “perseguição política” do governo do presidente Evo Morales e que seus direitos não foram respeitados.
Os partidários de Fernández entraram no Brasil por postos de fronteira, que costumam ser atravessados por brasileiros e bolivianos sem um forte controle. Entre os que fugiram para o Acre, está Ana Melena, dirigente cívica de Pando. Ela é acusada pelo governo boliviano de ser uma das mentoras da violência contra os camponeses.
“Entramos em contato com as autoridades brasileiras para informar a elas que se tratam de delinqüentes e não convém ao Brasil dar asilo. Uma vez identificados, eles deveriam ser expulsos”, disse o chefe de gabinete do governo da Bolívia, Alfredo Rada.
Os opositores cruzaram a fronteira com o Acre e se refugiram nos municípios de Brasiléia e Epitaciolândia, cidades próximas a Cobija, capital do Departamento de Pando, a 600 quilômetros ao norte de La Paz, na Amazônia. Rada também afirmou que mais dois corpos foram encontrados em Pando, entre eles o de um menino. “Acreditamos que eles tentavam fugir por um monte”, disse o ministro. Rada afirmou esperar o relatório dos médicos forenses para saber se os cadáveres têm marcas de tiros.
A matança ocorreu a 35 quilômetros de Cobija, quando partidários de Fernández emboscaram em uma região de florestas os camponeses leais a Morales, que iam a uma reunião, segundo a versão do governo. Até agora, oficialmente, o número é de 15 mortos, mais 37 feridos. Entre as vítimas está um funcionário do governo de Pando. Os outros eram camponeses, incluídos três estudantes de um instituto para professores rurais.