Santa Cruz de la Sierra (Bolívia) – De um lado do país, a Constituição nacional. Do outro, a tentativa de se livrar dela. Assim foi o sábado (15) na Bolívia, uma nação dividida que hoje recebe a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na capital, La Paz, movimentos sociais aliados ao presidente Evo Morales promoveram um ato para apoiar o novo texto constitucional, já aprovado em assembléia, mas que ainda depende de referendo popular.
No oriente boliviano, que exige menos poder para o governo central, quatro departamentos (estados) declararam autonomia com atos públicos: Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija.
Em Santa Cruz de la Sierra, capital de Santa Cruz, a festa foi em verde e branco, as cores do departamento. Críticas duras ao presidente e elogios ao empreendedorismo da região mais rica do país deram o tom do ato que marcou a declaração pública da autonomia.
Nos discursos, as autoridades também procuraram reforçar a idéia de que defendem a democracia e de que o movimento é pacifista, e não separatista.
Houve também uma homenagem aos grevistas de fome que encerram o jejum ontem, após 12 dias acampados na praça 24 de Setembro, zona central da cidade.
"Aqui se trabalha, não se vive do Estado", afirmou em discurso o presidente do Conselho Municipal, Oscar Vargas. "Ninguém nunca deu nada para Santa Cruz".
Segundo ele, a Assembléia Constituinte que aprovou recentemente a Constituição é "nula e não vale nada para o povo", enquanto a Assembléia Provisória Autonômica de Santa Cruz é "um pacto" com a população.
Ao final, chamou o prefeito Rubén Costas de "governador". Um prefeito é a principal autoridade de um departamento boliviano.
Chamá-lo de governador é imbui-lo de maior poder. É o cargo que Costas passará a ocupar se a autonomia for de fato efetivada e reconhecida legalmente. O presidente Evo Morales a considera ilegal.
Também em discurso, o empresário Branco Marinkovic, um dos homens mais ricos do país, pediu que Evo "respeite a pluralidade", já que, segundo ele, uma das principais medidas da nova Constituição é transformar o país num "Estado plurinacional".
Antes do comício, houve a apresentação oficial do estatuto autonômico. Em entrevista coletiva, Rubén Costas afirmou que lamenta o fato de Lula chegar a La Paz para se encontrar com Evo, alegando que o presidente brasileiro foi mal-tratado na ocupação da Petrobras, ocorrida quando o governo boliviano nacionalizou as reservas de gás e petróleo do país.
Costas disse esperar que um dia Lula visite Santa Cruz para assinar "acordos bilaterais com a região autônoma".
