O avião que levava o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, de volta a seu país desviou ontem e pousou na Nicarágua depois de não receber autorização para aterrissar no aeroporto de Tegucigalpa. Mas Zelaya afirmou que tentará novamente hoje ou amanhã voltar a Honduras. Ele declarou que os militares haviam colocado veículos na pista e ameaçado com uma interceptação aérea. “Se eu tivesse um paraquedas imediatamente me lançaria deste avião”, disse Zelaya, após sua fracassada tentativa de retorno.
Ao se aproximar do espaço aéreo hondurenho, Zelaya havia exigido lealdade dos militares e ordenado que fosse permitido o pouso de seu avião. “Sou o comandante-geral da Forças Armadas, eleito pelo povo, e peço ao Estado-Maior das Forças Armadas que cumpra a ordem de abrir o aeroporto”, afirmou, numa declaração divulgada pela TV venezuelana Telesur e retransmitida por um carro de som perto do aeroporto.
O presidente da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Miguel D’Escoto, e alguns jornalistas acompanhavam Zelaya em uma aeronave fornecida pela Venezuela. Na escala que fez em Manágua, Zelaya se encontrou brevemente com o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, e seguiu para El Salvador para se reunir com os presidentes do Equador, Rafael Correa, do Paraguai, Fernando Lugo, e da Argentina, Cristina Kirchner, além do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.
Em Tegucigalpa, o governo de Micheletti convocou entrevista coletiva e acusou a Nicarágua mobilizar tropas na fronteira entre os dois países para um ataque. Em seu pronunciamento, Micheletti acusou países vizinhos de iniciar “uma invasão psicológica” contra Honduras, usando redes de TV, em alusão à Telesur. No início da noite, perto da hora prevista para a possível aterrissagem do avião de Zelaya, todos os noticiários de TV foram tirados do ar e substituídos pelo pronunciamento de Micheletti.
O presidente nicaraguense desmentiu a acusação de que estava mobilizando forças para um ataque. “Isso é totalmente falso. Juro por Deus que a Nicarágua não está mobilizando tropas para Honduras”, afirmou a uma rádio. Ortega é um dos principais aliados de Zelaya. Em Honduras, a Igreja Católica se posicionou ao lado do governo de facto, com bispos do país reforçando a declaração feita no sábado pelo cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, de que o retorno de Zelaya provocaria um “banho de sangue”.