Para David Remnick, editor da revista The New Yorker e ganhador do Prêmio Pulitzer, a eleição de Barack Obama, primeiro presidente negro dos EUA, ultrapassa o aspecto racial e deve-se basicamente aos movimentos de direitos civis no país. É sob esse prisma que o jornalista conta a trajetória do presidente na biografia A Ponte – Vida e Ascensão de Barack Obama (R$ 65, editora Companhia das Letras), lançado este mês no Brasil.

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Em entrevista ao Estado, por telefone, Remnick afirmou que o maior impacto da eleição de Obama na história dos direitos humanos nos EUA é principalmente psicológico. “Para um jovem negro, o conceito do que ele pode conquistar muda quando ele vê que um afro-americano chegou à presidência. O limite do que é impossível para ele fica cada vez menor. Acredito que o mesmo aconteceria se uma mulher chegasse à presidência, como aconteceu no Brasil. Essa quebra de paradigma é vista quase como um milagre e influencia a personalidade dos cidadãos.”

O livro também mostra como Obama seduziu o eleitorado negro. Remnick diz que o presidente usou de extrema cautela ao tratar do componente racial. “Os EUA evoluem, mas, por vezes, essa evolução é penosa”, disse o presidente em entrevista ao autor. Na obra, os assessores de Obama comentam ainda que ele não teria sido eleito sem uma recessão econômica e duas guerras. Para Remnick, no entanto, a visão do eleitorado americano mudou desde a campanha presidencial até agora.

“Em 2008, a euforia era a eleição de um presidente negro, por razões óbvias: as questões raciais americanas, a escravidão, a guerra civil. A eleição de Obama causou uma grande comoção no país, até mesmo para as pessoas que não compartilham das posições política dele”, afirmou Remnick. “Uma vez eleito, a euforia desapareceu e os tempos difíceis retornaram. O resultado é uma erosão natural de sua popularidade.”

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