Foto: Lucimar do Carmo/O Estado

Tereza: ?Num incêndio florestal, muitos animais se ferem?.

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A soltura de balões em períodos de festas juninas e julinas não coloca em risco apenas bens materiais e a vida dos seres humanos. A prática, considerada ilegal e que muitas vezes resulta em prisão dos autores, também é uma ameaça à fauna e à flora, que podem ser bastante prejudicadas quando verificada incidência de incêndio.

?Quando acontece um incêndio florestal – seja devido à queda de um balão, a queimadas mal-conduzidas ou bitucas de cigarro acesas jogadas por motoristas em beiras de estradas – muitos animais acabam se ferindo e mesmo perdendo a vida?, conta a bióloga responsável pelo setor de mamíferos do Museu de História Natural do Capão da Imbuia, pertencente ao departamento de zoológico da Prefeitura Municipal de Curitiba, Tereza Cristina Margarido.

Na maioria das vezes, quando o fogo começa, os animais que vivem no local não têm para onde fugir e morrem queimados no meio da floresta. Porém, quando eles de alguma forma conseguem escapar, geralmente acabam morrendo atropelados em estradas, ou por não conseguir encontrar alimentos e abrigo fora de seus habitats naturais. ?A soltura de balões nos meses de junho e julho normalmente coincide com períodos de seca. Por isso, a ameaça aos animais silvestres é bastante grande.?

Entre as espécies atingidas pelos incêndios florestais estão pássaros, primatas e outros mamíferos. Porém, no Brasil, as principais vítimas das queimadas costumam ser o tamanduá-bandeira e o lobo-guará. Ambos estão ameaçados de extinção, sendo que o primeiro é apontado por órgãos ambientais como sendo uma espécie criticamente ameaçada, já sendo considerada extinta em alguns estados, como por exemplo o do Rio de Janeiro.

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?No Paraná, o tamanduá-bandeira ainda é encontrado, mas em pequena quantidade. Por aqui, nos últimos tempos, ele vem sendo visto principalmente em propriedades particulares, como em determinadas áreas voltadas à conservação ambiental. O animal faz parte das listas de espécies ameaçadas de extinção mantidas pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná), pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e pela União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais.?

Já o lobo-guará está em situação um pouco menos crítica se comparada ao tamanduá-bandeira. Entretanto, seu nome também é citado nas listas de espécies que correm risco de extinção tanto do IAP quanto do Ibama. A espécie necessita ser protegida e pode, dentro de alguns anos, vir a ser conhecida pelas próximas gerações apenas através de vídeos e fotografias ou, no máximo, em exposições mantidas por zoológicos que se preocupam em trabalhar em função de sua reprodução em cativeiro.

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No Zoológico de Curitiba, localizado dentro do Parque Iguaçu, são mantidos seis lobos-guarás, sendo que muitos nasceram no próprio local. Já os tamanduás-bandeiras têm dois representantes no zoo da capital paranaense, um macho e uma fêmea. O macho tem dois anos de idade e é nascido no Parque Iguaçu, tendo sido alimentado com mamadeira pelos funcionários do lugar por vários meses. Já a fêmea é originária de outro zoológico brasileiro. O casal, até agora, não se reproduziu.

Tamanduá-bandeira vive em campos e cerrados

O tamanduá-bandeira, um animal ameaçado de extinção, é uma das principais vítimas das queimadas que acontecem no Brasil.

Antigamente encontrado em todas as regiões do Brasil, o tamanduá-bandeira, cujo nome científico é Myrmecophaga tridactyla, vive em locais de campos e cerrados. É caracterizado por ter um olhar dócil e focinho bastante comprido em formato cilíndrico. Os representantes da espécie têm olfato bastante apurado, bem mais desenvolvido que o dos seres humanos. Porém, em contrapartida, não possuem a visão muito avançada.

?Ao longo de todo corpo, os animais são protegidos por pêlos bastante compridos (principalmente na região da cauda), que são considerados altamente inflamáveis?, diz a bióloga Tereza Cristina. Outro motivo de os tamanduás-bandeiras geralmente morrerem queimados quando ocorrem incêndios florestais é que eles se deslocam devagar, tendo andar lento e não conseguindo correr para escapar das chamas. ?O tamanduá-bandeira é considerado um animal pacífico mas, para se defender de predadores (como onças), ele possui garras afiadas e uma musculatura de patas dianteiras bastante forte.?

Único representante da ordem dos Xenarthra a não ter dentes (outros integrantes da ordem são o tatu e bicho-preguiça), o tamanduá-bandeira se alimenta exclusivamente de cupins, formigas e abelhas de chão. Destes insetos, ele tira todos os nutrientes de que necessita para sobreviver, podendo ingerir até 3 mil animais num único dia. Para capturar suas presas, ele introduz sua língua, que tem aproximadamente sessenta centímetros de cumprimento, em orifícios presentes em cupinzeiros e formigueiros encontrados no solo. A língua, além de grande, é recoberta por um muco pegajoso no qual os insetos ficam grudados.

Considerado ativo principalmente nos inícios de manhã e finais de tarde, o animal costuma procurar abrigos para se proteger de sol forte. É tido como uma espécie solitária, sendo visto em pares apenas em épocas de reprodução, o que geralmente acontece uma vez ao ano. ?A gestação do tamanduá-bandeira dura 190 dias e resulta em um único filhote (que nasce pesando cerca de 1,3kg). Este é altamente dependente da mãe por quase doze meses, ficando protegido em suas costas. O filhote pode ser amamentado até os quatro ou os seis meses de idade, ao mesmo tempo em que já começa a aprender a procurar comida sozinho.?

Um tamanduá-bandeira adulto chega a medir 1,90 metro de corpo e mais uns 80 cm de cauda. Seu peso médio é de 40kg e sua altura é de cerca de 60 cm. Em cativeiro, sua longevidade média é de vinte anos.

O lobo-guará é um animal considerado pouco agressivo

O lobo-guará pesa em média 20kg e na natureza se alimenta basicamente de pequenos mamíferos, aves, répteis e frutas.

Canídeo de aparência elegante que vive nos mesmos locais em que são encontrados os tamanduás-bandeiras, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) recebeu este nome devido ao som de seus uivos, que foi interpretado como ?guará? por povos indígenas.

Considerados pouco agressivos, tendo maior tendência a fugir do que a atacar quando ameaçados por predadores, os representantes da espécie se caracterizam pelo corpo coberto por pêlos levemente avermelhados e pelas pernas compridas e finas. Estas lhes permitem ter bastante agilidade e alcançar grande velocidade em corridas, embora muitas vezes não os salvem de incêndios.

?Em incêndios verificados no Parque Estadual de Vila Velha, por exemplo, já foram encontrados lobos-guarás carbonizados. Além disso, na região, eles costumam ser freqüentemente encontrados mortos em beiras de estradas, tendo sido vítimas de atropelamentos?, diz a bióloga do Museu de História Natural.

O lobo-guará pesa em média 20kg e na natureza se alimenta basicamente de pequenos mamíferos, aves, répteis e frutas. Também costuma ser uma espécie solitária, sendo vista acompanhada apenas em períodos de reprodução. A gestação dura cerca de 65 dias e a fêmea pode ter entre dois e cinco filhotes, que nascem com pelagem pouco mais escura do que os indivíduos adultos e são desmamados aos dois meses de idade, permanecendo junto à mãe até o final dos seis primeiros meses.

?Além dos incêndios florestais, também ameaçam a vida dos lobos-guarás fazendeiros que vivem nas proximidades de seus habitats e criam galinhas. Isto porque os lobos muitas vezes entram nas propriedades para tentar capturar as aves e acabam sendo mortos pelos proprietários dos galinheiros. Ao invés de realizar um bom manejo das aves, cercando-as de forma adequada para que elas não sejam retiradas de seus recintos, algumas pessoas erroneamente preferem tentar resolver o problema acabando com a vida dos canídeos?, finaliza Tereza Cristina.