O Bahrein prendeu importantes dissidentes nesta quinta-feira, dia em que aumentou a pressão sobre o país para que interrompa a sangrenta repressão aos protestos liderados por muçulmanos xiitas. Cinco graduados ativistas xiitas e um sunita foram detidos durante a noite, informou um parlamentar de uma aliança oposicionista xiita. “Eles foram presos durante a noite”, disse Khalil Marzouk, vice-líder do movimento oposicionista Al-Wefaq, em entrevista à France Presse. Ontem, a violência deixou pelo menos cinco mortos na nação governada por uma família real sunita. A Organização das Nações Unidas (ONU) criticou a repressão no país.
Entre os detidos está Hassan Mashaima, líder do movimento linha-dura xiita Haq, que busca derrubar a monarquia sunita que controla o país de maioria xiita há 230 anos. Mashaima retornou a Manama, no Bahrein, vindo do exterior em 26 de fevereiro, após acusações de terrorismo contra ele serem arquivadas, como parte de uma oferta anterior de paz do governo para com a oposição. O ativista pelos direitos humanos e membro do movimento Haq Abduljalil al-Singace, que foi libertado em fevereiro após seis meses de prisão, também foi detido, segundo a oposição. O governo não confirmou as prisões.
Ontem, forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e tiros para acabar com um protesto na praça Pearl, na capital Manama, no pior dia de violência desde que os ativistas começaram a protestar nas ruas, no mês passado. A oposição diz que três manifestantes foram mortos na ação, enquanto o governo afirma que dois policiais morreram em ataques de membros da oposição.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, telefonou para o rei Hamad para demonstrar sua “grande preocupação”. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediu ao rei que realize uma “reforma, não repressão”. Os manifestantes exigem que o país se torne uma monarquia constitucional, a renúncia do governo e o fim da repressão e da corrupção. Elementos xiitas mais radicais, como o movimento Haq, querem a instauração de uma república.
Emergência
O rei Hamad decretou na terça-feira estado de emergência por três meses. Além disso, centenas de tropas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes entraram no país esta semana para ajudar as forças oficiais a garantir a segurança. A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, criticou o envio de soldados estrangeiros. Segundo ela, esse é “o caminho errado”. Hillary disse que a solução de longo prazo para a crise é um “processo político”. O Bahrein é um forte aliado dos EUA e abriga a Quinta Frota das Forças Armadas norte-americanas.
Policiais e militares ocuparam áreas em Manama e vilas xiitas no interior foram isoladas, em meio a relatos de confrontos que deixaram centenas de feridos. Agora, há em áreas da capital um toque de recolher, em vigor das 20 horas às 4 horas, sem data para terminar.
Ativistas pelos direitos humanos denunciaram que as forças de segurança estão impedindo a chegada de feridos aos hospitais, além de baterem em médicos que tentam retirar os feridos das ruas. O ministro da Saúde, o xiita Nizar Baharna, renunciou após a polícia supostamente invadir um hospital em Manama. Doze juízes xiitas também se demitiram, protestando pelo que qualificaram como “o uso excessivo da força” pelas autoridades.
A chefe do setor de direitos humanos da ONU, Navi Pillay, criticou a atuação das forças de segurança em hospitais e postos de saúde, afirmando que isso se trata de uma “flagrante violação à lei internacional”. Em comunicado, Navi se disse preocupada com a escalada da violência no país, em especial com a suposta tomada de hospitais.
Irã
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, condenou a intervenção estrangeira no país do Golfo Pérsico. O Irã retirou hoje seu embaixador de Manama, respondendo na mesma moeda à medida tomada no dia anterior pelo governo do Bahrein, que retirou seu embaixador de Teerã após o governo do país persa de maioria xiita criticar a repressão política na nação do Golfo Pérsico. Em Beirute, capital do Líbano, centenas de partidários do movimento xiita Hezbollah realizaram um protesto contra a intervenção saudita no Bahrein. As informações são da Dow Jones.