A organização argentina Avós da Praça de Maio anunciou ontem, dia 5, que identificou o neto número 116 sequestrado pela ditadura militar (1976-83). A vítima é filho dos desaparecidos Hugo Castro, mestre de obras, e Ana Rubel, garçonete e estudante de economia.
O casal foi detido por um comando composto por oficiais da Marinha, em janeiro de 1977, e levado para a Escola de Mecânica da Armada (Esma), maior centro de detenção e tortura da ditadura em Buenos Aires.
Ana deu à luz na própria Esma, no bairro de Núñez. No entanto, o bebê foi levado para o Hospital de Crianças porque estava com falta de oxigenação. Posteriormente, foi criado por um médico da Casa Cuna, o mais famoso orfanato de Buenos Aires. Seus pais biológicos foram assassinados pelos militares. O paradeiro de seus corpos ainda é desconhecido.
As Avós da Praça de Maio mantiveram silêncio sobre o nome do neto, atualmente com 37 anos. Revelaram, porém, que ele se submeteu a uma análise de DNA há dois meses, quando suspeitou que poderia ter sido um bebê sequestrado na época da ditadura.
Sua identidade será divulgada em breve, depois que ele entrar em contato com os tios paternos e maternos. Seus avós, que o procuraram durante anos, já morreram. “Ele quer saber tudo sobre sua família biológica”, declarou Martín Fresneda, secretário argentino de Direitos Humanos.
As organizações de defesa dos direitos humanos calculam que 500 bebês foram roubados pela ditadura militar argentina. O plano sistemático de apropriação das crianças – único na história da América Latina – envolveu militares, policiais e dezenas de civis.
Modus operandi
Os bebês, filhos das presas políticas que desapareceram, nasciam em maternidades clandestinas, várias delas instaladas nos centros de detenção e tortura ou em hospitais militares. Nas horas ou dias seguintes ao nascimento, eram arrancados de suas mães e entregues a famílias de militares ou policiais.
Em diversos casos, as crianças foram adotadas pelos torturadores de seus pais. Um dos casos mais notórios foi o do ex-capitão Alfredo Donda Tigel, que matou seu próprio irmão, um militante de esquerda, e a cunhada para se apropriar das duas sobrinhas. Tigel ficou com uma delas, loira, e entregou a outra, morena, a uma família sem filhos.
Desde o fim dos anos 90, as Avós da Praça de Maio contam com um banco de dados genéticos para comparar as amostras de DNA das famílias dos desaparecidos e dos prováveis netos (atualmente com 34 a 38 anos), suspeitos de terem sido sequestrados quando eram recém-nascidos. Essas amostras ficarão guardadas até 2050 para que qualquer pessoa possa checar laços de parentesco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.