A mais de 10 mil quilômetros do Paquistão e do Afeganistão, confortavelmente sentados em suas poltronas, em centros de controle nos Estados Unidos, soldados americanos estão travando uma guerra de controle remoto. De uma base militar em Nevada, a uma hora de Las Vegas, e do quartel-general da CIA, em Langley, esses americanos pilotam Predators e Reapers – as principais aeronaves de pilotagem remota (RPAs) – que sobrevoam zonas tribais do Paquistão e confins do Afeganistão. Segundo o Pentágono, boa parte da liderança do Taleban e da Al-Qaeda foi morta com mísseis e bombas disparados por essas aeronaves. O problema é que esses ataques não são cirúrgicos.
Embora sejam seguros para os americanos e eficientes contra a Al-Qaeda, os danos colaterais são enormes: segundo entidades de direitos humanos, entre 30% e 70% das mais de mil vítimas dos ataques desde 2006 são civis inocentes. Há mais de 7 mil RPAs americanas sendo usadas no Afeganistão, Paquistão e Iraque. É difícil precisar, mas calcula-se que a vida de milhares de soldados americanos foi salva com o uso desses jatos, disse ao jornal O Estado de S. Paulo Peter Warren Singer, diretor do Centro de Defesa do Século 21 no Brookings Institution.
Mas os desafios morais e éticos representados por essa guerra de videogame são enormes. O sentimento antiamericano na região está crescendo por causa dos ataques dos RPAs. Uma música de rock popular no Paquistão diz que os americanos travam uma guerra sem honra, na qual nem arriscam suas vidas nem lutam cara a cara. Esse sentimento antiamericano e as centenas de mortes de civis levam as populações locais a apoiarem os insurgentes – o que acaba minando os esforços dos EUA para ganhar a guerra.