Aviões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan, a aliança militar liderada pelos EUA) bombardearam três antenas de transmissão da rede estatal de televisão da Líbia em Trípoli nesta madrugada. Várias explosões foram ouvidas em diferentes pontos da capital; pela manhã, porém, a TV líbia continuava no ar.
A Otan disse que os ataques tinham o objetivo de degradar “o uso da televisão via satélite como meio de intimidar o povo líbio e incitar a violência contra ele”. A aliança não esclareceu quem estaria sendo incitado a atos de violência contra a população. “Atacar especificamente essas antenas vai reduzir a capacidade do regime de oprimir civis, ao mesmo tempo preservando a infraestrutura de transmissão de televisão que será necessária depois do conflito”, afirmou a Otan em comunicado.
O texto também diz que as transmissões do coronel Muamar Kadafi são “inflamatórias” e têm o objetivo de mobilizar seus apoiadores. A Otan informou também que atacou nas últimas 24 horas veículos militares, instalações de radar, depósitos de munição, postos de artilharia antiaérea e centros de comando das forças de Kadafi.
A aliança iniciou sua campanha de bombardeios contra a Líbia há cinco meses, ostensivamente para garantir uma “zona de exclusão aérea”, impedindo que a Força Aérea líbia atacasse civis. Logo depois do início das operações, porém, os governos dos principais países membros da Otan (EUA, Reino Unido e França) passaram a dizer que o conflito só seria encerrado com a derrubada de Kadafi. Os aviões da aliança passaram a tentar matar o dirigente líbio, bombardeando barris residenciais de Trípoli onde se suspeitava que ele estivesse; num desses ataques foram mortos uma das filhas e dois netos de Kadafi.
A Otan já lançou mais de 17 mil missões aéreas na Líbia desde março, entre elas cerca de 6.500 missões de bombardeio, mas Kadafi e seu governo continuam a resistir. O importante mês sagrado do Ramadã, no qual os muçulmanos jejuam entre o nascer e o pôr do Sol, começa nesta segunda-feira e a Otan já não tem a expectativa inicial de que o conflito seja de curta duração.
O envolvimento da Otan no que não passava de uma confrontação entre as forças do regime de Kadafi e um bando de rebeldes armados transformou o conflito em guerra civil e abriu divisões na aliança ocidental. Antes mesmo do início da campanha, a Alemanha retirou seus aviões do comando da Otan, para evitar que eles fossem obrigados a participar da campanha. Depois das primeiras ondas de ataques, os EUA foram o primeiro país a limitar sua própria participação, decidindo fornecer apenas apoio aos aliados europeus. A Itália retirou seu único porta-aviões do teatro de operações e a Noruega anunciou que até segunda-feira vai remover da área seus caças F-16.
Os outros cinco países que ainda estão participando das operações contra Kadafi são França, Reino Unido, Bélgica, Dinamarca e Canadá.
Na Líbia, o movimento contra Kadafi parece imerso em confusão, depois do assassinato de seu principal comandante militar. Mustafa Abdel Jalil, presidente do Conselho Transitório Nacional, ordenou neste sábado que todas as milícias que se opõem a Kadafi se dissolvam a si mesmas e que seus combatentes passem a ficar sob o comando exclusivo do CTN.
“Chegou a hora de desmanchar essas brigadas. Quem quer que se recuse a cumprir este decreto será julgado com todo o rigor da lei”, disse Jalil. Ele não esclareceu a que lei se referia, já que o CTN, embora reconhecido por países como França e Reino Unido como o “único governo legítimo” da Líbia, não tem Constituição ou sistema judiciário estabelecido.
Na última quinta-feira, Abdel-Fattah Younis, o principal comandante militar das forças que combatem o regime de Kadafi, foi morto a tiros depois de ser capturado para interrogatório, supostamente por causa da suspeita de que estaria negociando secretamente com Kadafi. Seu corpo e os de seus dois principais auxiliares, ambos coronéis, foram encontrados nas ruas de Benghazi, a principal cidade líbia sob controle do CTN. As informações são da Associated Press.