O governo australiano enviou reservistas do Exército nesta segunda-feira, 6, para atuarem nas áreas devastadas pelos incêndios florestais em três estados e anunciou fundos de US$ 1,4 bilhão para ajudar regiões atingidas. Depois de um fim de semana catastrófico, os incêndios que assolam o país desde setembro destruíram uma área equivalente à ilha da Irlanda, relataram as autoridades.

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Segundo o governo, a crise está longe de terminar, com a chegada de uma onda de calor. O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cujo governo foi criticado pela lenta resposta à emergência ambiental, anunciou que concederá cerca de US$ 1,4 bilhão ao fundo nacional de recuperação. “Temos um longo caminho pela frente e estaremos juntos com essas comunidades a cada passo enquanto elas se reconstroem”, declarou.

Nesta segunda, bombeiros australianos, ajudados por reforços dos Estados Unidos e do Canadá, esperavam aproveitar algumas chuvas e uma queda relativa nas temperaturas para tentar controlar alguns focos, antes que os termômetros voltem a subir.

O governo realizou a maior mobilização de reservistas já feita pelo Exército. Cerca de 3.000 pessoas foram deslocadas para a costa leste, onde ajudarão as equipes de emergência a avaliar os danos, restaurar a eletricidade e distribuir alimentos, ou combustível, para as áreas afetadas.

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‘O pior está por vir’

Pela primeira vez na história australiana, o governo enviou equipes de assistência médica para colaborar nas ações. Em tempos normais, essas equipes servem em países estrangeiros afetados por desastres naturais. “A guarda não pode ser baixada, pois existem 130 incêndios ativos em Nova Gales do Sul”, disse o primeiro-ministro deste estado, Gladys Berejiklian.

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Desde setembro, cerca de cinco milhões de hectares (50.000 km²) foram reduzidos a cinzas neste estado, cuja capital é Sydney, de acordo com o chefe de bombeiros rurais, Shane Fitzsimmons. Com isso, já são cerca de oito milhões o número de hectares destruídos em todo país, uma área equivalente à da Irlanda.

Até o momento, 24 pessoas morreram, e duas estão desaparecidas em Nova Gales do Sul. Mais de 1.500 casas foram destruídas. Além disso, pelo menos metade da população de coalas australianos, que são fundamentais para garantir o futuro da espécie, teria morrido desde o início dos incêndios que devastam a ilha santuário de Kangaroo. Essa área natural turística na costa do estado da Austrália Meridional abriga muitas espécies nativas, incluindo coalas, cuja população é estimada em 50 mil.

O presidente do novo fundo para ajudar vítimas de incêndios no estado de Victoria, Pat McNamara, acredita que, talvez, o pior ainda esteja por vir. “Ainda não estamos no que, em circunstâncias normais, é a alta temporada de incêndios”, disse ele à televisão ABC.

Fazenda salva duas vezes

“Provavelmente teremos quatro, ou cinco, semanas com essas temperaturas. Teremos que enfrentar isso”, acrescentou McNamara. Na pitoresca cidade de Eden, no extremo sul de Nova Gales do Sul, Holly Spence, 28 anos, diz que passou 12 horas defendendo a fazenda da família das chamas. E não foi a primeira vez que passou por isso. “Espero não ter que viver isso pela terceira vez”, declarou.

Fiona Kennelly, de 50, abrigou-se em um motel perto de Eden com os 24 membros de sua família, e está aliviada com a queda das temperaturas. “É ótimo poder ver a luz do dia novamente”, afirma, referindo-se à escuridão do céu em pleno dia por causa da fumaça.

As autoridades também precisam lidar com o impacto na saúde em grandes cidades como Melbourne ou Canberra ou em áreas próximas a incêndios, pois a fumaça pode causar dificuldades respiratórias. Na capital, algumas instituições permaneceram fechadas nesta segunda-feira. Camberra já é uma das cidades mais poluídas do mundo, à frente de Nova Délhi, ou Karachi na classificação do Air Visual, um portal independente que mede a qualidade do ar.

Ao longo dos meses, o mal-estar da população aumentou em relação ao governo conservador de Scott Morrison, acusado de privilegiar o lucrativo setor de carvão em vez de combater o aquecimento climático.

Primeiro-ministro hostilizado

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, é alvo de críticas de bombeiros por suas declarações e pela forma com que gerencia a crise. Desde sábado, circula nas redes sociais um vídeo em que Paul Parker, um bombeiro de 57 anos, critica o chefe de governo. O bombeiro afirmou que se sentia “absolutamente consternado” pelo governo. Ao ouvir o primeiro-ministro dizer que milhares de bombeiros voluntários queriam estar em campo para lutar contra as chamas, Parker perdeu a paciência. “Você é um imbecil, amigo”, declarou, como se dirigisse ao primeiro-ministro. “Venha a campo para ver o que estamos suportando. Você não tem ideia, homem. O governo não tem nem ideia”, disparou.

“Faço isso por meus vizinhos, pelo povo de Nelligen e pelos australianos. Não faço isso por Scott Morrison ou nenhum homem do governo”, desabafou Parker.

O chefe de serviços rurais dos bombeiros de Nova Gales do Sul, Shane Fitzsimmons, também criticou o primeiro-ministro, declarando-se “muito decepcionado” por ter sido informado pela imprensa da decisão, anunciada no sábado, de chamar 3.000 reservistas do exército para ajudar os bombeiros. Fitzsimmons lamentou a falta de “cortesia profissional básica”.

Dias atrás, um bombeiro se negou a cumprimentar Morrison em uma visita do primeiro-ministro a campo. Morrison também vem sendo criticado por privilegiar o setor de carbono em vez de combater o aquecimento global. Ontem, Morrison minimizou as críticas dizendo que a prioridade é combater os incêndios. “Isso não ajuda neste momento”, rebateu. (Com Agências internacionais)