Ausência de Chávez é vista como cobrança a Kirchner

A ausência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na 39ª cúpula de presidentes do Mercosul, que teve início hoje na cidade argentina de San Juan, é interpretada como uma insolência aos sócios e uma cobrança a Néstor Kirchner, secretário da União de Nações da Sul-Americanas (Unasul). Chávez avisou, no último momento, que “uma gripe” o impede de comparecer à reunião, que está sendo marcada pelas discussões sobre o conflito entre Venezuela e Colômbia.

O presidente colombiano Álvaro Uribe, que conclui seu mandato no próximo sábado, também não compareceu, mas avisou antecipadamente. Uma fonte diplomática da Venezuela disse que Chávez decidiu não ir à cúpula porque soube que Uribe pretende realizar uma inspeção hoje de tropas de seu país.

A falta de Chávez é vista como cobrança de uma posição firme dos sócios contra as denúncias de Uribe de que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) são apoiadas por Caracas. Chávez também está decepcionado com a ausência de Néstor Kirchner à reunião dos chanceleres da Unasul, realizada na quinta-feira passada, em Quito, para tratar do conflito.

Segundo a diplomacia venezuelana, Caracas esperava que Kirchner, seu tradicional aliado político, conseguisse aprovar, naquele encontro, um documento final contra a ofensiva colombiana. No entanto, a reunião dos chanceleres foi inócua e terminou com uma declaração sobre a necessidade de uma reunião entre os presidentes da região para discutir o assunto.

O encontro só ocorrerá em setembro, na data original prevista para a cúpula da Unasul, devido à dificuldade de conciliar as agendas de todos os mandatários para realizar um encontro extraordinário.

Defesa

Chávez também esperava uma atuação mais contundente por parte de Kirchner em defesa da Venezuela. No momento em que Chávez declarou a ruptura das relações com Bogotá, Kirchner e sua mulher Cristina se apresentaram como mediadores do conflito.

A Argentina se consolidou nesta posição quando o casal Kirchner recebeu, na semana passada, com um dia de diferença, o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel dos Santos, e o chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro. Contudo, a ausência de Kirchner em Quito debilitou seu país como mediador, conforme observação de uma fonte diplomática venezuelana.

A presidente Cristina argumenta que a negociação só tem sentido após a posse de Santos. Embora os ministros e presidentes não digam em voz alta, o Mercosul contava com a presença de Chávez na cúpula, em San Juan, para tentar abrir caminho para as negociações entre Caracas e Bogotá.

O assunto já foi discutido por Santos com os presidentes Lula e Cristina e com os demais mandatários durante a série de viagens que fez aos países antes de sua posse, marcada para o dia 7 de agosto.

O tema esquentou a reunião dos chanceleres do Mercosul, ontem, que assinaram uma declaração para que o assunto seja colocado na mesa da próxima cúpula da Unasul. A declaração tenta esvaziar as tentativas de Bogotá de que a questão seja tratada no âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), onde conta com o apoio dos Estados Unidos.

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