O termo assédio moral tem se tornado cada vez mais conhecido na mídia. Em uma pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Psicologia em março deste ano, das 821 pessoas entrevistadas, 46% já ouviram falar do assédio moral. Destas, 33% dizem já ter sofrido este mal. As vítimas mais freqüentes são as mulheres, em 74% dos casos. No entanto, cabe uma análise mais aprofundada de cada caso para se confirmar o que os estudos consideram como assédio moral.
Assédio moral é toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se, sobretudo, por comportamentos, palavras, atos, gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou a integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho. No entanto, ações semelhantes, mas ocorridas num curto espaço de tempo e não direcionadas a uma única pessoa, mesmo incoerentes e condenáveis, não podem ser consideradas assédio moral, pois neste observa-se o fator tempo, freqüência e intencionalidade. No outro caso, chamamos de assédio profissional.
Em um grupo é natural que conflitos existam, sendo estes bastante importantes para o crescimento de seus integrantes. O problema evidencia-se quando este é contínuo, persecutório e manifesto de forma a humilhar o outro, diminuí-lo, destruí-lo. O objetivo do agressor é transtornar, levar a vítima a uma confusão tal que a faça cometer erros, desqualificando a si própria. Casos como depressão, síndrome do pânico, abuso de álcool e drogas são bastante freqüentes nas vítimas.
Segundo a pesquisa, as ações mais freqüentes para caracterizar o assédio moral são: tornar-se alvo de fofocas e intrigas, deixar de receber informações, ter sua competência questionada e receber metas quase impossíveis de se atingir. Os sintomas mais comuns ao assédio são: nervosismo e ansiedade, baixa auto-estima, insônia ou excesso de sono, vontade de mudar de profissão, perda da vontade de trabalhar e perda ou aumento do apetite.
As mulheres externalizam mais seu sofrimento. As crises de choro são 350% mais freqüente neste gênero. Já os homens se isolam e não falam para a família ou amigos sobre o que está acontecendo no trabalho, até que não conseguem mais suportar. Por isso, o índice de idéias suicidas e tentativas de suicídio são mais freqüentes nos homens, de acordo com uma pesquisa realizada por Margarida Barreto no ano 2000.
Após a apresentação e questionamento sobre as ações e sintomas mais característicos do assédio moral, os entrevistados foram novamente perguntados se, numa segunda análise, já haviam sofrido deste mal. O objetivo da pergunta foi analisar de forma mais criteriosa os casos vividos pelos entrevistados. Assim, 33% das pessoas que haviam dito inicialmente que não haviam sofrido o assédio, mudaram de opinião, ou seja, do número total de pessoas entrevistadas, 20% considera ter passado por essa situação humilhante.
Um dos fatos interessantes é que o assédio não começa já com a perseguição, pois se o fosse ficaria muito evidente para a vítima. Numa primeira fase há a sedução perversa, onde o agressor utiliza os instintos protetores do outro, retirando sua capacidade de defesa e todo o senso crítico e só então passa para a segunda fase, que é a violência manifesta evidenciada por atitudes hostis ou muitas vezes mascaradas pelo isolamento e rejeição. Como a vítima está muito envolvida e influenciada, pode-se dizer que ela acredita que o problema está em si mesma, isto é, não consegue discernir o que realmente está acontecendo. Por isso, o apoio dos colegas é importantíssimo.
Entretanto, na pesquisa, a reação das pessoas que conviviam com a situação no mesmo ambiente de trabalho foi de pouco apoio. Segundo os entrevistados, os colegas de trabalho não se envolviam, fingiam que nada acontecia, mas alguns tentavam ajudar de alguma forma. Menos da metade das pessoas (46%) que sofreram o assédio tomaram alguma providência. Muitos recorreram aos superiores ou buscaram explicação junto aos agressores, mas também foram muitos os que pediram demissão.
Cabe agora continuar a discussão sobre o Assédio Moral no trabalho em vários âmbitos: na população em geral (visto que, na pesquisa, a grande maioria tinha nível superior de escolaridade), nas empresas, faculdades e entidades de classe. Como objetivos desta divulgação, entende-se primeiro que se deve possibilitar às pessoas o entendimento deste quadro específico de terrorismo psicológico, evitar a banalização do termo, diferenciando-o de uma simples “bronca” ou “pressão para se atingir resultados” e comprovar aos empresários que estas atitudes diminuem a produtividade, prejudicam o nome da organização, faz a empresa perder profissionais de talento e levam a dispendiosas custas com processos judiciais. Para as vítimas, cabe orientar para as formas de se defender: conseguindo testemunhas na empresa, documentos e registros que sirvam de prova, consultando o sindicato e um advogado. Para se manter a saúde mental e a capacidade para o trabalho, deve-se buscar o apoio da família, dos amigos e, se necessário, procurar um psicólogo.
Carlos Eduardo Baptista é psicólogo em Curitiba.