As negociações entre o governo da presidente Cristina Kirchner e as lideranças dos produtores agropecuários estão cada vez mais emperradas. Nas últimas semanas, os produtores insistiram em pedir o fim dos aumentos aplicados pelo governo sobre os impostos para as exportações agrícolas (além dos tributos "móveis" que oscilam de acordo com os preços internacionais), enquanto o governo resiste à idéia de ceder.

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Como o impasse continua, aproxima-se o fim da trégua de um mês de duração concedida pelos produtores ao governo. Na noite da quinta-feira da semana que vem (dia 1º de maio), se o governo não fornecer soluções para o setor, os produtores voltariam à paralisação das atividades e aos piquetes nas estradas. Além disso, daqui a uma semana, os argentinos poderiam viver novamente sob o pesadelo do desabastecimento e escassez de alimentos.

"O governo não quer acordo algum", lamentou um dos principais líderes do locaute, Alfredo De Angelis, da Federação Agrária da província de Entre Ríos, que afirmou que a paralisação poderia ser retomada na semana que vem. O presidente da Sociedade Rural, Luciano Miguens, ilustrou: "a coisa está complicada. Os dias passam e a solução não aparece".

O Ministro do Interior, Florencio Randazzo, sustentou que o governo tem "vontade" de fazer um acordo com os ruralistas. "Mas não podemos fazer qualquer tipo de acordo", explicou. Na mesma linha, o Ministro de Justiça, Aníbal Fernández, afirmou que o governo não voltará atrás na decisão de aplicar impostos móveis sobre as exportações.

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Ao longo dos últimos dias, a única negociação que resultou em um acordo foi a das exportações de carne. O pacto determinou que as restrições que o governo impunha às vendas do produto para o exterior seriam reduzidas. Mas, o acordo, embora assinado, não foi cumprido pelo próprio governo.

Para complicar, o governo argentino ainda não deu uma resposta sobre a eventual retomada das exportações de trigo, cuja suspensão, há meses, ameaça provocar escassez do produto no Brasil, onde 70% do mercado depende do abastecimento argentino. Segundo os argentinos, o abastecimento ao Brasil só poderá ser garantido quando o conflito com o setor rural for resolvido.

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As três semanas do locaute rural ocorrido em março no país tiveram um impacto direto na atividade industrial deste mês. Por causa da paralisação do setor, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), a indústria alimentícia da Argentina despencou 10,1%, o que constituiu a pior queda interanual desde 2002, quando o país estava mergulhado na crise. A queda do setor teve efeitos no índice da produção industrial geral, que registrou um crescimento de apenas 3,1%, o equivalente a um terço do nível registrado em fevereiro.