O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, refutou nesta sexta-feira, 26, qualquer apoio do Brasil a intervenção militar na Venezuela, após divergir publicamente do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, sobre como lidar com a crise política no país vizinho. O chanceler brasileiro negou que haja a possibilidade de a Base Aérea de Alcântara, no Maranhão, ser usada em eventual operação na Venezuela.

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“Não temos nenhum tipo de direção que não seja a ação diplomática na Venezuela. A nossa ação, tanto do Brasil quanto do Grupo de Lima, que é o principal ambiente internacional no qual estamos, não tem nada de intervenção. É uma ação de apoio ao que consideramos o governo legítimo da Venezuela”, afirmou Araújo, em entrevista coletiva após participar da Reunião de Ministros das Relações Exteriores do Brics, no Palácio do Itamaraty, no Rio.

Na coletiva, o ministro foi questionado especificamente sobre a possibilidade de a Base Aérea de Alcântara ser usada em operações na Venezuela. Em março, Brasil e Estados Unidos concluíram as negociações do novo Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST), que permitirá o uso comercial da base de Alcântara, para o lançamento de satélites. O governo americano já afirmou que não descarta o uso militar para resolver a crise na Venezuela.

“Sobre a Base de Alcântara, é uma base de lançamento de satélites. Não tem absolutamente nenhum tipo de uso militar”, afirmou Araújo na entrevista.

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Mais cedo, no discurso de abertura do encontro do Brics, Araújo afirmou que “um grito que pede liberdade” vem da Venezuela e exortou os países do grupo a agirem em conjunto na crise venezuelana. Rússia e China, países que têm assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, têm mantido o apoio ao governo de Nicolás Maduro. Em discurso logo em seguida ao de Araújo, o chanceler russo Lavrov defendeu uma solução “sem interferência de fora” na Venezuela.

Após os discursos, o chanceler brasileiro minimizou a divergência com o colega russo. Araújo disse que, no encontro multilateral, procurou passar a “perspectiva do Brasil” em relação a Venezuela, que é “o grande desafio da nossa região”, e frisou que, entre os Brics, o Brasil é o país mais próximo da crise venezuelana.

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Segundo o ministro brasileiro, a posição do chanceler Lavrov é também a do Brasil, de que a solução para a crise tem que ser “construída pelos venezuelanos”. “Com base na compreensão mútua, há terreno para aproximação com um país que não vê a questão exatamente da mesma maneira”, afirmou Araújo, se referindo à Rússia.

O chanceler frisou, porém, que o Brasil considera que a solução para a crise deve ser centrada no governo “que consideramos legítimo”, do autoproclamado presidente Juan Guaidó. Para o Brasil, disse ministro, a “solução democrática” passa pelo fim do governo Maduro e pela realização de “eleições legítimas”.