Após pressão, Morales cancela medida sobre transporte

O presidente da Bolívia, Evo Morales, cancelou uma medida que, se cumprida, teria levado à retirada de circulação de cerca de 60% da frota de veículos de transporte público do país. A medida ameaçava gerar novos protestos populares e punha em risco milhares de empregos.

“Quero dizer a eles de maneira pública que cometemos um grande erro… lamentavelmente às vezes, por erros técnicos, se podem cometer erros”, afirmou Morales. “Quem não se equivoca? Me equivoquei e por isso esta correção urgente, para evitar conflitos”, disse ele, após uma longa negociação ontem com trabalhadores do setor de transportes.

O ministro de Comunicação, Iván Canelas, elogiou o fato de os motoristas desistirem dos protestos previstos e justificou Morales. “O único que não comete erros é o que não faz nada”, afirmou ele hoje.

Morales aprovou um decreto que obrigava a retirada de veículos do transporte público que tivessem 12 anos ou mais, dizendo que a medida teria afetado uma fonte de emprego que beneficia setores “pobres”.

É a segunda vez que é derrubada uma medida no setor para evitar protestos. No fim de 2010, Morales voltou atrás na anulação de um subsídio que teria elevado o preço dos combustíveis em até 70%, após duras manifestações nas ruas.

Morales tem um discurso ecologista e frequentemente fala em defender a Mãe Terra. Em 2008, proibiu a importação de carros usados alegando razões ambientais, porque disse que não queria o país transformado em uma “lixeira de ferro-velho”. Ainda assim, muitos veículos entram no país de forma contrabandeada, principalmente do Chile, e também do Brasil.

Os trabalhadores do setor de transportes afirmam que mais de 60% da frota automobilística do país tem 12 anos ou mais e que a retirada desses veículos teria deixado milhares de pessoas sem emprego. O caótico setor de transportes opera praticamente sem controle, já que qualquer pessoa pode dispor de um veículo para trabalhar como taxista.

Outra mostra da falta de supervisão são os frequentes e muitas vezes letais acidentes em rodovias, causados por problemas nos veículos. Segundo estudos privados, há quase 1 milhão de veículos na Bolívia, responsáveis por 90% da contaminação ambiental nas cidades. O problema também afeta os cofres do Estado, que subvenciona os combustíveis.

O governo estimou em US$ 700 milhões a carga para o Estado este ano com os subsídios, o dobro de 2008. O Ministério da Economia previu no orçamento deste ano um déficit de US$ 1 bilhão, ou 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), e 70% desse déficit é fruto dos subsídios aos combustíveis, cujos preços estão congelados. As informações são da Associated Press.

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