O rei saudita Abdullah bin Abdulaziz al-Saud, morto aos 90 anos, foi enterrado ontem mesmo em cerimônia simples e rápida, como mandam as tradições religiosas do reino. Embora o protocolo oficial não preveja luto oficial, os países vizinhos anunciaram semanas de pesar e seus principais líderes compareceram para dar condolências à família real. Antes do funeral, em Riad, o corpo do rei Abdullah foi levado a uma mesquita. O monarca foi sucedido no trono pelo meio-irmão Salman bin Abdulaziz al-Saud, de 79 anos. Como seu sucessor, o novo rei nomeou seu irmão, príncipe Muqrin bin Abdulaziz al-Saud, de 69 anos.

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O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, o presidente francês, François Hollande, o rei Felipe VI da Espanha e o príncipe Charles da Grã-Bretanha anunciaram planos de visitar a capital saudita para prestar tributo à Casa Al-Saud. Hollande declarou que a visão de Abdullah de “uma paz justa e duradoura no Oriente Médio continua a ser mais do que nunca atual”.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, lembrou o compromisso do monarca “em favor da paz e do fortalecimento do entendimento entre as religiões”. Para a chanceler alemã, Angela Merkel, a política do rei saudita era “equilibrada e moderada e defendia o diálogo entre o mundo muçulmano e o Ocidente”. O presidente russo, Vladimir Putin, saudou o rei Abdullah como um “político sábio e um líder que despertava amor e respeito de seus súditos”.

Berço

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Como a Arábia Saudita é o berço do Islã e seu rei é o guardião de Meca, até os críticos estão enviando delegações de alto nível. O Irã, principal rival regional do reino, enviou o chanceler Javad Zarif. O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que caiu em desgraça após as agitações no Egito, interrompeu sua visita à Etiópia para ir ao funeral. Para Erdogan, o rei contribuiu “para o reforço da cooperação e da solidariedade no mundo muçulmano, particularmente no que se refere à questão palestina e à situação na Síria”.

O Bahrein e a Jordânia decretaram 40 dias de luto. No Bahrein, as bandeiras ficarão a meio mastro por 40 dias e as repartições públicas ficarão fechadas durante 3 dias. O Egito declarou uma semana de luto e âncoras nas emissoras de TV estatais usaram roupas pretas.

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O Marrocos, onde vários membros da família real saudita passam as férias, decretou três dias de luto. O rei Mohamed VI, em uma carta de condolências divulgada pela agência de notícias oficial, lamentou a perda “para a Arábia Saudita e toda a nação muçulmana de um bravo governante que defendeu causas justas”.

A Indonésia, o maior país muçulmano do mundo, homenageou Abdullah como o homem “que trouxe reformas e prosperidade a seu povo, um defensor da unidade árabe em uma região muitas vezes dividida”. O Líbano, que tem relações estreitas com Riad, disse ter perdido um “defensor e um parceiro” que permaneceu ao lado de Beirute “em tempos difíceis”.

O presidente tunisiano, Beji Caid Essebsi, disse que o rei “defendeu as causas da justiça, da paz e do desenvolvimento no mundo árabe e muçulmano e no mundo”. Durante a Copa da Ásia, em Sydney, na Austrália, os jogadores da seleção dos Emirados Árabes Unidos, que entraram em campo contra o Japão, usaram braçadeiras negras em sinal de luto.

Sucessor

O novo rei saudita, Salman bin Abdulaziz al-Saud, pediu ontem, em um pronunciamento na TV, unidade e solidariedade entre os países árabes e muçulmanos. Ao falar sobre unidade, Salman mencionou o avanço de extremistas como o grupo Estado Islâmico, que controla um terço do território da Síria e do Iraque. “As nações árabes e islâmicas necessitam extremamente de solidariedade e união”, disse em um discurso transmitido pela rede estatal Saudi 2.

Em seu pronunciamento, Salman também prometeu dar continuidade às políticas de Abdullah, seu meio-irmão. “Continuaremos, com o apoio de Deus, o caminho de avanços em linha reta deste país estabelecido pelo rei Abdullah”. Aos 79 anos, Salman já havia assumido as principais funções do rei Abdullah no ano passado, com a deterioração da saúde do monarca. Até então, ele atuava como vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa.

Sobre seu irmão, Salman disse que o monarca dedicou sua vida a “servir a Deus, sua religião e seu povo”, assim como para defender os assuntos árabes e das nações islâmicas. Entre as primeiras decisões do novo rei se destacam a designação de seu sobrinho Mohamed bin Nayef al-Saud como segundo na linha sucessória, atrás do príncipe herdeiro, Muqrin bin Abdulaziz al-Saud, irmão do monarca. Desde sua criação, o trono saudita vem passando de um a outro filho do fundador do reino, Abdulaziz, e os monarcas costumam receber o cargo com uma idade muito avançada. Abdullah se tornou rei aos 81 anos de idade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.