Os militares da Venezuela fecharam ontem 70 lojas, incluindo o supermercado Exito, ligado à rede varejista francesa Casino. A medida foi aparentemente tomada em cumprimento à ameaça de fechar negócios que aumentassem os preços, após uma forte desvalorização da moeda local, o bolívar. O governo do presidente Hugo Chávez pediu à Guarda Nacional que fechasse as lojas por supostas “irregularidades”, segundo a agência estatal ABN.

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As notícias foram divulgadas no momento em que venezuelanos correm para supermercados com as prateleiras vazias de itens como televisores, geladeiras e outros. Com o novo câmbio, produtos como esses devem subir bastante no país, caso sejam importados. Na sexta-feira, Chávez anunciou que a moeda será cotada a 4,30 bolívares para cada dólar para produtos “não essenciais” – o dobro do índice até então em vigor. Para itens básicos, a taxa oficial será de 2,60 bolívares por dólar.

O líder esquerdista advertiu no domingo que qualquer especulação com os preços levaria ao fechamento de negócios. Também pediu à Guarda Nacional que ajudasse no combate aos aumentos. “Para esses senhores, vamos chamá-los saqueadores do povo. Se eles querem, vão em frente e o façam, mas nós tomaremos seus negócios e os entregaremos aos trabalhadores”, ameaçou Chávez em seu programa semanal de rádio e TV, “Alô, Presidente”.

A agência ABN informou que lojas de alimentos e outros comércios foram fechados ontem por “mudar o preço dos produtos e por especulação”. Os consumidores se mostravam temerosos com as mudanças. “Nós vendemos o triplo do normal”, comparou o proprietário de uma loja de utilidades domésticas de Caracas. Um cliente, um analista de sistemas que também pediu anonimato, disse que a desvalorização o estimulou a comprar a televisão que namorava havia meses. “Logo, elas custarão o dobro, mas eu não estarei ganhando o dobro”, previu.

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Foi a primeira desvalorização do bolívar desde 2005. A medida foi tomada em parte para fortalecer as finanças públicas, que sofrem com a redução na renda com o petróleo e com a contração da economia. Os críticos afirmam que a medida permitirá a Chávez fortalecer o gasto público antes das eleições parlamentares marcadas para setembro. Para eles, porém, isso prejudicará seriamente a economia venezuelana.

Com as medidas, o governo obterá até o dobro de dólares pela renda com o petróleo. Com isso, a moeda local ficará mais perto de seu índice no mercado paralelo, de aproximadamente 6 bolívares por dólar.

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Oportunidade

O governo afirmou que a desvalorização era algo positivo para a indústria doméstica. O ministro do Planejamento, Jorge Giordani, previu que as importações devem cair em até 40%. “O setor privado tem uma oportunidade de ouro para crescer e ter uma economia doméstica mais forte”, previu Giordani, em entrevista à emissora estatal VTV.

Investidores internacionais afirmaram que a desvalorização ocorreu tarde, mas advertiram que ela fará pouco para brecar o declínio da outrora crescente economia da Venezuela, a menos que outros passos sejam tomados para aumentar a confiança dos investidores. “A nova desvalorização não corrigirá o problema de longo prazo, já que o governo se recusa a tomar medidas para estimular o investimento privado, seguindo com sua política intervencionista”, afirmou a agência de investimentos Moody’s.

Outra agência de classificação de risco, a Fitch, também demonstrou preocupação. A Fitch notou em comunicado os temores para os empresários venezuelanos por causa das mudanças nos marcos regulatórios, do “ambiente macroeconômico instável”, dos controles de preços e dos gargalos no setor de energia, que têm desestimulado investimentos.

Desde que assumiu o poder, em 1999, Chávez prometeu refazer a economia venezuelana, com a meta anunciada de criar um sistema mais justo, socialista. Ele iniciou uma série de nacionalizações de companhias e bancos estrangeiros, além de tomar medidas que elevaram a inflação no ano passado para 25%, o índice mais alto na América Latina. Maior produtor sul-americano de petróleo, a Venezuela entrou em recessão em 2009 pela primeira vez em seis anos, pela queda nos preços do petróleo e na produção. As informações são da Dow Jones.