Por três vezes durante seus 27 anos na prisão, o detento Charles Chatman declarou sob juramento que não era um estuprador. Sua inocência foi comprovada por exames de DNA. A liberação de Chatman, de 47 anos, aumenta o número de condenados injustamente no condado de Dallas, o índice mais alto dos Estados Unidos. "Toda vez que eu ia falar sob juramento eles me pediam uma descrição do crime ou minha versão", disse Chatman. "Eu não tenho minha versão do crime. Eu nunca cometi o crime. Eu nunca vou admitir ter sido o autor de um crime que não cometi".
O juiz do distrito, John Creuzot, responsável pelo pedido de liberação, recomendou que a corte criminal de apelação considerasse Chatman inocente. Com vários parentes chorando e se abraçando, Chatman foi liberado. "Não posso dizer como me sinto" disse sua tia, Ethel Bradley. "É um sentimento que não tinha há muito tempo, só por poder segurar suas mãos". Antes que o crime seja oficialmente retirado da ficha de Chatman, a corte de apelação deve aceitar a recomendação ou o governo deve conceder perdão.
Chatman é o 15º detento do condado de Dallas, desde 2001, que foi solto devido a testes. Ele ficou preso por mais tempo que os outros, quatro dos quais estavam na corte ontem para demonstrar seu apoio. Dallas liberou mais detentos depois de testes de DNA do que qualquer outro condado do país, disse Natalie Roetzel, do Innocence Project do Texas. O Texas é líder em detentos liberados por resultados de DNA no país – soltou ao menos 30 detidos erroneamente desde 2001, de acordo com o Innocence Project.
O advogado do distrito Craig Watkins também atribui as exonerações a uma cultura do passado, de promotores buscando condenações a todo custo. Watkins criou um programa para estudantes de direito para rever cerca de 450 casos de detentos que pediram testes de DNA para provar sua inocência. Chatman tinha 20 anos quando a vítima, uma jovem de cerca de 20 anos, o reconheceu. Chatman disse que morou a cinco casas da vítima por 13 anos, mas não a conhecia.
Ela o identificou na corte como o responsável e testes sorológicos mostraram que o tipo de sangue encontrado na cena do crime eram iguais aos dele – e de quase 40% dos homens negros. Chatman disse que estava trabalhando no momento do crime, um álibi confirmado por sua irmã, que também era sua chefe. Mesmo assim, foi condenado por violência sexual em 1981 e foi sentenciado a 99 anos de prisão.
Chatman acredita que foi julgado por ser negro. O júri, disse, tinha apenas um membro negro. "Eu fui condenado porque um negro cometeu um crime contra uma branca", disse. "E eu estava disponível". O ex-detento quer trabalhar com o Innocence Project do Texas para apoiar outros detentos injustamente condenados. "Acredito que há centenas deles, e conheço dois ou três que poderiam estar nesta cadeira agora se tivessem o apoio que eu tive", disse. "Minha prioridade hoje é ajudar as pessoas que estão na mesma situação em que eu estive".