As autoridades eleitorais do Haiti afirmaram ontem à noite que a disputa presidencial do domingo foi válida – mesmo com os registros de duas mortes, reclamações de fraudes, protestos e pedidos de cancelamento do pleito – e que começaram a contagem dos votos. Segundo o Conselho Eleitoral Provisório (CEP), houve problemas em apenas 56 das 1.500 seções eleitorais. O presidente do CEP, Gaillot Dorsainvil, disse até que a disputa foi um “sucesso”.
Já a missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti (Minustah), liderada pelo Brasil, divulgou um comunicado no fim do domingo. No texto, a Minustah demonstra a preocupação da missão e da comunidade internacional diante de “numerosos incidentes que mancharam as eleições”. No comunicado, a Minustah pediu que a população e os candidatos “permaneçam calmos”, alertando para a possibilidade de “consequências dramáticas”, caso ocorra uma piora na situação de segurança.
O Haiti vive uma epidemia de cólera, que já matou 1.650 pessoas. Os haitianos agora escolhem um sucessor para o presidente René Préval, para liderar uma nação que sofreu ainda um violento terremoto em janeiro, que matou 250 mil pessoas. Hoje, milhares de pessoas foram às ruas para protestar contra as supostas fraudes. “Você não pode roubar o voto popular”, disse o músico Wyclef Jean, nascido no Haiti, que não teve sua permissão para concorrer na disputa.
Existe o temor de que as fraudes possam manchar a disputa. Doze dos 18 candidatos na corrida eleitoral denunciaram uma “conspiração” do atual governo e da comissão eleitoral. Entre os candidatos que condenaram a disputa está a favorita, a ex-primeira-dama Mirlande Manigat. Esse grupo disse que os conspiradores tentam “beneficiar o candidato do partido no poder”.
Pesquisas de opinião apontavam que Mirlande, de 70 anos, tinha uma vantagem clara sobre o segundo colocado, Jude Celestin, do partido governista. A tendência, segundo as pesquisas, é que esses candidatos sigam para o segundo turno, no dia 16 de janeiro.
Farsa e desorganização
O Centro para a Pesquisa Econômica e Política, grupo dos Estados Unidos que monitora eleições, notou que houve muitas irregularidades e a votação deveria ser rejeitada pela comunidade internacional. Um diretor da entidade, Mark Weisbrot, disse que “essas eleições foram uma farsa óbvia do começo ao fim”.
Pelo menos duas pessoas foram mortas por trocas de tiros entre partidários de candidatos rivais na cidade de Aquin, no sul do país. Vários outros ficaram feridos pelo Haiti, informou um porta-voz da polícia nacional.
Também houve muita desorganização nas eleições. Centenas de milhares de vítimas do terremoto que perderam suas casas, a maioria sem documentos, e outras pessoas sem documentos não sabiam onde votar. Não houve eleição em duas cidades do norte do país, após gangues dispararem para o ar e destruírem urnas. As informações são da Dow Jones.