A presença de cães e gatos soltos, circulando livremente pelas praias, trilhas e matagais, é um problema que se faz presente durante todo o ano na Ilha do Mel, um dos principais pontos turísticos do litoral paranaense. Para solucioná-lo, integrantes do curso de Medicina Veterinária da UFPR, em parceria com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e a Secretaria de Estado da Saúde, vêm realizando um projeto de controle populacional e sanitário dos animais domésticos que vivem no lugar.
Os trabalhos tiveram início em meados do ano passado, quando duas estudantes de veterinária foram até a ilha e permaneceram no local por um período de trinta dias. Na ocasião, foi realizado um censo canino e felino, sendo que todos os animais encontrados foram fotografados e receberam tatuagens com números seqüenciais na orelha, para fins de identificação individual.
No censo, foi constatado que cerca de oitocentas pessoas possuem residência fixa na ilha. O número de moradores aumenta para 1.200 em épocas de alta temporada, principalmente no verão. No total, existem 240 domicílios nas praias de Encantadas e Brasília. Sessenta por cento delas possuem cães ou gatos. Foram cadastrados 157 cães (88 machos e 69 fêmeas) e 113 felinos (62 machos e 51 fêmeas).
?Percebemos que os habitantes da ilha se preocupam com o bem-estar dos animais, mantendo-os bem alimentados e fornecendo-lhes água fresca. Porém, a maioria dos bichos que foram cadastrados não são castrados e não costumam receber vermífugos e ser vacinados periodicamente. A maior parte é semidomiciliada (tendo residência de referência, mas transitando livremente pelas ruas), não possui raça definida e tem idade média de quatro anos?, comenta o médico veterinário, professor da UFPR e coordenador do projeto, Alexander Biondo.
Neste segundo semestre, estudantes e professores estão retornando à ilha para dar seqüência às ações. Doses de vacinas anti-rábicas e vermífugos, já fornecidos no ano passado aos animais, devem ser disponibilizados novamente de forma gratuita a todos os bichos cadastrados. Posteriormente, vai ser verificada a entrada de novos animais na ilha. Estes, quando aparecem, geralmente são levados por turistas. ?A entrada de animais na ilha é proibida, mas muitas vezes os bichos são levados escondidos dentro de sacolas pelas voadeiras. Desta forma, futuramente, também pretendemos realizar um trabalho de conscientização voltado a turistas.?
Também para o futuro, os acadêmicos e os professores de Medicina Veterinária estudam a possibilidade de realizar uma campanha de castração de animais na ilha. A cirurgia, que no mercado pode variar de R$ 126 a R$ 502 (dependendo do sexo e do tamanho de cães e gatos), deve ser disponibilizada de forma gratuita à população. A idéia inicial é de que os procedimentos sejam financiados pelo IAP e realizados pelos estudantes, sob a supervisão de um corpo docente. Entre cães e gatos machos, é feita a retirada dos testículos ou vasectomia. Entre fêmeas, a castração envolve retirada de útero e ovários.
Problemas
Foram cadastrados 157 cães (88 machos e 69 fêmeas) e 113 felinos (62 machos e 51 fêmeas) vivendo na Ilha do Mel. |
Durante a realização do censo, os participantes verificaram que a presença de cães e gatos soltos na Ilha do Mel gera transtornos a moradores e turistas, além de danos ao meio ambiente. O problema mais comum é a verificação de fezes de animais espalhadas pela areia das praias e, conseqüentemente, a grande incidência de bicho geográfico (doença de pele, também chamada de Larva Migrans Cutânea ou dermatite serpinginosa, que apresenta lesões em formato de mapas) entre os freqüentadores das mesmas.
?A presença de gatos é considerada mais séria que a presença de cães. Isto porque os felinos destroem a fauna da região, agindo como predadores. Eles geralmente atacam passarinhos, lagartos e mesmos alguns insetos. Não sabemos ainda se isto é grave a ponto de as presas correrem risco de extinção?, finaliza Biondo. Apesar de 113 felinos terem sido cadastrados pelos realizadores do censo, o professor acredita que vivam na ilha cerca de 150.
?Cão na Escola? incentiva a posse responsável
Outro projeto que vem sendo desenvolvido por professores e estudantes de Medicina Veterinária da UFPR é o ?Cão na Escola?, considerado pioneiro. No início deste segundo semestre letivo, um cão deve passar a viver no Colégio Municipal Emílio de Menezes, localizado em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, com o objetivo de incentivar a posse responsável de animais.
O animal – que vai conviver diariamente com 231 estudantes de ensino fundamental, com idades entre 6 e 12 anos – é uma fêmea jovem e dócil, sem raça definida, que foi encontrada abandonada pelos donos na rua. A cadela passou por um período de quarentena, recebendo vacinas e vermífugos, e em breve deve receber um nome, que vai ser escolhido pelos próprios alunos através de concurso realizado pelo colégio.
?Na escola de São José dos Pinhais vamos dar início a um trabalho piloto. Posteriormente, se o projeto der certo, pretendemos colocá-lo em prática em outros colégios de Curitiba e municípios vizinhos?, explica a estudante do quarto ano de veterinária, Érika Mesquita, que coordena o ?Cão na Escola?.
A presença do cão no colégio, segundo Érika, vai fazer com que as crianças aprendam a tomar conta de forma correta dos animais, conhecendo suas necessidades básicas, informando-se melhor sobre comportamento animal e adquirindo um pouco de conhecimento sobre cuidados veterinários. Nos dias de aula, as crianças ficarão responsáveis pela alimentação, pelos banhos, pelos passeios e pela limpeza do recinto dos animais.
?Muitas vezes as crianças têm cachorros em casa, mas os mesmos não são tratados da forma que deveriam. Aprendendo na escola que o animal necessita de vacinas, vermífugos, carinho, entre outras coisas, os alunos vão levar as informações a seus pais e desta forma melhorar a qualidade de vida de seus próprios animais. Vão incentivar de forma voluntária a posse responsável, transmitindo conhecimentos?, diz Érika.
No Colégio Emílio de Menezes, a expectativa pela chegada do cão é grande. A diretora do estabelecimento, Vilma Pissaia, acredita que o animal, além de incentivar a posse responsável e o respeito pelos bichos, também pode contribuir com o aprendizado das crianças. ?O convívio diário com o cão deve contribuir para que as crianças se tornem mais responsáveis, desenvolvam a própria afetividade e superem possíveis problemas de relacionamento interpessoal. Tudo isso pode se refletir dentro da sala de aula, fazendo com que os alunos tenham um maior rendimento escolar e superem algumas dificuldades de aprendizado?, afirma Vilma. A cadelinha ainda sem nome deve ganhar um espaço físico especial, um canil, dentro do colégio. Ela só será retirada do local em finais de semana, feriados e período de férias escolares, em que as crianças não estarão na instituição de ensino para tomar-lhe conta dela. O projeto também visa combater o abandono de animais nas ruas, pois os alunos do colégio irão receber informações sobre o sofrimento que isso causa aos bichos e sobre transmissão de zoonoses.