O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reiterou hoje que ainda há campo para negociação com o Irã nas questões envolvendo o enriquecimento do urânio. “É claro que é preciso testar a disposição do país, mas tem essa chamada para a mesa de negociação. Se há dúvidas sobre a verdadeira intenção do Irã, vamos fazer o que o presidente Mahmoud Ahmadinejad (do Irã) disse que faria, até recebendo mais tarde o que ele quer, que é o combustível, então, chama para negociar. Pede para o negociador iraniano sentar e verificar se funciona”, disse o ministro, destacando que não concorda com a postura de, a priori, considerar que tudo que é proposto por um lado é só para enganar.
Amorim disse que o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) só deve tratar do assunto quando for discutir sanções ao país. Mas o ministro disse que, até agora, o assunto não está sendo tratado neste nível. “Vi declarações de alguns países, mas não vejo ainda decisão tomada (quanto às sanções)”, afirmou ao chegar para a reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), no ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Ao ser questionado se sanções duras poderiam atrapalhar a negociação, Amorim disse que é preciso olhar a história. Ele disse que há sempre pedidos por medidas “mais e mais severas” e isso é perigoso, segundo ele, porque pode passar de um limite que coloque em risco a paz. “Porque nós não vemos realmente que seja o caso, acho que haveria possibilidade de diálogo”, insistiu.
Destemor
O ministro disse também não temer que a posição do Brasil possa prejudicar a conquista de uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU. “Não estou preocupado com isso. Se eu fosse condicionar as posições do Brasil em função de ambições, eu não dava um passo. Tudo que você faz descontenta alguém. Então, temos que fazer o que achamos certo”, disse.
Ele disse que está pronto para discutir com aqueles que discordam da opinião do Brasil, mas que não vai tomar uma decisão “por isso ou aquilo”. Amorim disse que os países que dizem “amém” a tudo não contribuem para uma evolução positiva. Ele disse que, para que isso aconteça, é preciso ter capacidade de diálogo e de crítica. “Nós temos os mesmos objetivos das potências ocidentais. Não queremos que o Irã tenha armas nucleares. Apenas reconhecemos que é um direito ter um programa pacífico como outros países e o que nós queremos é chegar a esta certeza por meios pacíficos e do diálogo. Achamos que isto não está esgotado”, afirmou.
A França e os Estados Unidos pediram ontem ao Conselho de Segurança da ONU que adote duras sanções ao Irã, em razão do anúncio feito pelo presidente iraniano de que o país irá enriquecer seu próprio urânio sem enviar o material ao exterior para que seja processado. O temor é que o Irã, com isso, obtenha capacidade de produzir bomba nuclear.