O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, propôs hoje um acordo com os Estados Unidos para flexibilizar as exportações de produtos fabricados no Haiti, como forma de incentivar os investimentos estrangeiros e a reconstrução do país destruído por um terremoto. O objetivo é discutir com os EUA a concessão do tratamento livre de tarifas e cotas para mercadorias produzidas no Haiti.
Pelo mecanismo, os produtos feitos no Haiti por empresas brasileiras poderiam ser exportados para os Estados Unidos com maior flexibilidade. O Brasil aplicaria então a reciprocidade, liberando a entrada no território nacional de mercadorias feitas por companhias norte-americanas no país da América Central.
“Mas, para isso, os EUA precisam flexibilizar as regras de origem”, disse Amorim, após participar de debate no Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça). “Nós estamos dispostos a flexibilizar e dar reciprocidade.”
O ministro contou que há várias companhias brasileiras interessadas em investir no Haiti, principalmente do setor têxtil, para a produção de confecções – tanto que já conversou com o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). “Existem empresas grandes interessadas nesse projeto, valendo-se da mão-de-obra relativamente barata do Haiti.”
A intenção é que esse mecanismo seja temporário, por 15 ou 20 anos, para ajudar na reconstrução do país, disse Amorim. “Isso irá atrair investimentos”, afirmou. O mesmo esquema foi usado para ajudar países afetados pelo tsunami no final de 2004.
A concessão do tratamento livre de tarifas e cotas para países pobres já fazia parte da estratégia brasileira antes do terremoto que abalou o Haiti. No final do ano passado, o ministro anunciou que adotaria o sistema até meados de 2010.
Sobre as dificuldades para destravar a Rodada Doha, Amorim acredita que é necessário o engajamento dos líderes dos países. Para ele, uma solução seria colocar o tema na próxima reunião de cúpula do G-20, que acontecerá no Canadá. O ideal, avalia, é resumir as tratativas em seis ou sete itens para aprovação dos presidentes e primeiros-ministros.
“Se os líderes não se envolverem, não haverá solução”, disse. “O assunto do comércio está ficando chato, porque os técnicos ficam discutindo e as coisas não saem do lugar.”